domingo, 21 de fevereiro de 2010

Tatra, ski, trenós e sal

Estimados leitores,

Estamos no Inverno. Ao pensar nisto, imagino montes de neve a cair e brancura a embelezar toda a paisagem. Pelo menos é assim que o Inverno está presente no meu imaginário e, mais particularmente, o Natal.

Pois, tudo isso é muito bonito, mas sempre que a temperatura chegava a uns 5 ºC, já estava a queixar-me do frio de rachar.

Após algum tempo a viver em países mais frios, se o termómetro indicar 5 ºC, penso para mim: "Porreiro, o tempo está a aquecer!". Uma pessoa habitua-se.

Contudo, algo de grave se está a passar na minha mente. Isso torna-se por demais evidente quando, ao constatar que lá fora estão -2 ºC, reajo com um "Olha, até nem está frio hoje!".


Mas deixarei esses devaneios para outra altura. Esse episódio passou-se há pouco mais de uma semana quando, farto deste clima temperado, onde as temperaturas têm medo de baixar muito do zero, me desloquei à Polónia por uns dias (entre 11 e 16 de Fevereiro).

Como sabem, na Polónia o Inverno é orgulhosamente branco, frio, agreste, com ruas cheias de neve e estalactites de gelo nos telhados, perigosamente apontadas aos transeuntes. Enfim, faz jus ao seu nome. Mesmo assim, e como já referi, não estava muito frio quando lá cheguei (os tais -2 ºC).


Depois do primeiro dia passado em Cracóvia, seguimos viagem em direcção aos montes Tatra, que formam uma fronteira natural entre Polónia e Eslováquia.

Ficámos então alojados numa espécie de Bed & Breakfast em Białka Tatrzańska (já consigo escrever isto à primeira, sem erros), uma aldeia a cerca de 75km de Cracóvia.

Como naquela localidade não se passa absolutamente nada a não ser na estância de ski, lá fomos nós alugar umas tábuas para pôr nos pés, umas estacas para espetar na neve e umas botas com as quais parecia que estávamos a dar os primeiros passos neste mundo.

Enfim, posso dizer que o ski correu muito melhor do que esperava. Nunca me aventurei muito, mas ao menos lá aprendi a travar (sempre muito útil), a deslizar um bocado, eventualmente virar um pouco e, em último caso, atirar-me para o chão caso a travagem normal não estivesse a fazer o efeito desejado.

É assim que se trava.


É claro que, estando na Polónia, um copo de vinho aquecido depois de esquiar vinha mesmo a calhar (ui, que trocadilho... vinho... vinha... ah, ah, ah... ah... ou não...).

Pequeno-almoço e jantar, no Bed & Breakfast, sempre muito bem servidos, embora o jantar, sendo entre as 16 e as 17h, para mim fosse mais um lanche bastante puxado.


Numa dessas noites, fizemos um passeio num trenó puxado por um cavalo (que se chamava "ursinho de peluche") pelo bosque, até um local onde assámos uma espécie de chouriças (os enchidos locais são obviamente diferentes dos nossos, mas acho difícil não gostar) e queijo das montanhas, enquanto bebiamos uma cerveja também da região (cerveja Tatra, pois claro).


No último dia nas montanhas, deslocámo-nos a Zakopane, considerada a capital de Inverno da Polónia. É palco habitual de provas internacionais de ski, e é bastante popular também para várias actividades relacionadas com montanhismo.






Um teleférico levou-nos ao topo de uma das montanhas, Kasprowy Wierch, a 1987m de altitude, de onde seria possível admirar a paisagem deslumbrante, não fosse o nevoeiro cerrado.




De qualquer forma, deu para conhecer outro país lá em cima. Durante uns minutos estive com os pés na Eslováquia, e devo dizer que não me agradou muito. Branco, moderadamente frio (-11 ºC, na altura), com visibilidade reduzida, escorregadio. Um país muito chato, sinceramente.



Depois de uma refeição ligeira tradicional da montanha - pizza - tornámos a descer e demos uma vista de olhos à cidade, muito orientada ao turismo, com muitas barracas a vender todo o tipo de coisas relacionadas com a montanha. Enfim, depois de umas voltas por lá, uma travessa de carne de porco foi bem-vinda.




No último dia, a caminho de Cracóvia, parámos em Wieliczka, onde se situa uma mina de sal que produziu sal de mesa desde o século XIII até 2007, como uma das mais antigas minas de sal em actividade.

A mina atinge uma profundidade de 327m, mas a visita guiada vai apenas até 135m, abrangindo menos de 1% da sua totalidade.

Ainda assim, foi uma visita bastante interessante, através das suas galerias, passando por inúmeros engenhos antigos, estátuas e outras esculturas feitas ao longo dos anos.

E foi a primeira vez que comi alguma coisa àquela profundidade, o que é sempre relevante.

Vislumbre por entre as centenas de escadas que descemos até lá abaixo.












Enfim, dias bem passados que terminaram mais uma vez em Cracóvia, de onde viajei novamente para a Holanda.


Aqui a neve já quase derretera totalmente, o Inverno deixara de ser branco. O sol brilhava, num atípico céu azul, e os seus raios tocavam agradavelmente a minha cara, disfarçando as temperaturas ainda baixas.

Assim fui recebido em Nijmegen, de forma poética! É pena que a chuva já tenha regressado, e o céu retomado o seu cinzento habitual.


Do widzenia!

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