quinta-feira, 28 de outubro de 2010

Pieniny

Caros leitores,

Como o prometido é de vidro (mesmo que com algum atraso) vou escrever um pouco acerca da penúltima semana do mês de Setembro.

As montanhas Pieniny, no sul da Polónia, não muito longe das Tatra (que, com bom tempo, estão sempre visíveis no horizonte), foram o destino escolhido para umas férias perto da Natureza.


A viagem começou, como tantas outras, com um voo a partir do aeroporto de Weeze. A única chatice dos voos para Cracóvia (pelo menos ultimamente), é que partem por volta das 7h da manhã, o que implica, não tendo carro, que tenha de apanhar o shuttle-furgão pouco depois das 3h. Logo, nestas circunstâncias opto por não dormir.

Uma curiosidade que já aconteceu várias vezes em voos de e para Cracóvia, e desta vez aconteceu nas duas viagens, é que o/a assistente de bordo que verificava o bilhete na traseira do avião (por onde costumo entrar) era Português (ou Portuguesa, na viagem de volta). Isto dá origem a comentários interessantes, como "Tens a certeza que estás no voo certo?" e outros do género.


Passado um dia que me permitiu, entre outras coisas, descansar da viagem, demos por nós em Kluszkowce, a base escolhida para exploração da zona.

Kluszkowce é uma pequena e pacata aldeia nas redondezas de um reservatório de água (lago Czorsztyn, nome adoptado de uma outra aldeia situada numa das suas margens) originado depois da construção da barragem no rio Dunajec (o principal afluente do Vístula, que atravessa Cracóvia e Varsóvia). Para além de uma igreja, que acabou por servir de ponto de referência enquanto não conhecíamos o sítio, pouco mais há a destacar.

Instalámo-nos numa espécie de residencial, e tivemos direito a tratamento personalizado, já que éramos os únicos hóspedes (a época alta já tinha passado).

Quando lá chegámos já era tarde, pelo que não foi possível fazer mais do que passear um pouco por uma espécie de museu ao ar livre, perto da margem do lago, com diversas casas de madeira antigas (levadas para lá, de diversos locais que entretanto ficariam submersos com a inauguração da barragem) e comer pato com maçã e truta num restaurante local.








O dia seguinte (assim como os restantes) foi começado da melhor maneira. Um pequeno-almoço à grande, com vários tipos de pão, queijo, fiambre, chouriças ou salsichas, ovos, entre outros alimentos absolutamente essenciais para iniciar bem o dia. Não só era uma grande quantidade de comida, como dava a sensação de que era tudo feito no local.

Para digerir esse pequeno-almoço para o qual a palavra "pequeno" faz pouco sentido, andámos às voltas pelos campos a tentar encontrar uma alternativa à estrada normal, o que se revelou deveras cansativo. Umas horas mais tarde, uma espécie de gôndola (era o que lhe chamavam, embora tivesse motor) transportava-nos pelo lago entre Czorsztyn e a margem oposta, pertencente à localidade de Niedzica. Ambas as localidades possuem os seus castelos, que são dos pontos mais interessantes da região.

Começámos então por visitar o castelo de Niedzica, outrora um posto fronteiriço com a Hungria, que ao longo dos séculos foi alvo de várias remodelações por parte dos seus proprietários Húngaros. O castelo domina a margem do lago, e situa-se na proximidade da barragem.
Uma curiosidade acerca da barragem é que, tendo sofrido muita constestação enquanto era construída, foi de importância capital no dia da sua inauguração, em 1997, ao ter salvo todo o vale de uma enchente que seria catastrófica.

Após a visita ao castelo houve ainda tempo para uns queijinhos da montanha, umas waffles acompanhadas de uma cerveja, e para perder a última "gôndola" de volta.

Sim, porque todas as indicações que se encontram acerca destes transportes são válidas apenas para a época alta. Os horários para a época baixa existem apenas sob a forma de indicações verbais por parte dos condutores dos veículos. De qualquer forma tivemos sorte ao arranjar boleia de um outro casal de turistas que tivera a boa ideia de se fazer acompanhar por um automóvel.

Acabámos por jantar, dessa vez, em Czorsztyn, a uma distância caminhável (embora seja uma caminhada não muito curta) de Kluszkowce.












O dia seguinte foi reservado para uma actividade bastante popular na região. Rafting no desfiladeiro do rio Dunajec. Se bem que este rafting é algo acessível para toda a gente, e não propriamente o que pensei de início, pelo nome. Consiste simplesmente em percorrer uma boa parte (e geralmente pouco profunda) do rio, durante cerca de 2 horas e meia, numa espécie de jangada de madeira, conduzida por pessoas locais qualificadas para o efeito.

É um passeio bastante calmo e agradável, e permite ver a bela paisagem da região sob uma perspectiva diferente. Começa em Sromowce Kąty e termina em Szczawnica, a cidade mais importante da região, facto que se constata facilmente ao chegar lá, dado o grande número de turistas e infra-estruturas orientadas para o turismo que se encontra.

Independentemente de ser ou não turística, o que é certo é que também se encontram algumas coisas interessantes por lá. Nomeadamente alguns restaurantes com a tipicamente saborosa comida Polaca. Acabámos por encontrar um restaurante deveras interessante. Penso que se chamava qualquer coisa como "O Castelo do Gato" ou algo parecido. Entra-se no restaurante através de umas escadas que descem para a cave, com luz fraca, decoração medieval, a fazer lembrar umas masmorras. Ao subir um piso, faz lembrar algo mais normal, com um bar e mesas de madeira escura. Continuando a subir, chegamos à selva. Flores e plantas por todo o lado e alguns animais, como cágados ou papagaios, dão cor a um piso onde a temperatura sobe à medida que o sol vai batendo no tecto de vidro. No mínimo interessante. :)











Mais um dia, mais uma aventura. Decidimos caminhar pelas montanhas até ao seu ponto mais alto, no massivo das Três Coroas (Trzy Korony). E nada melhor para começar a caminhada do que comer uns queijinhos, feitos e comprados numa cabana que se encontra no parque natural, no início do percurso marcado para os caminhantes.

Ainda na mesma cabana, por pouco não perdi uma mão, ao ter começado a provocar o pitbull de 2 metros que lá se encontrava... Ok, não era um pitbull... Nem sequer era mais que um pequeno cachorro. Mas tinha os dentes afiados.

E por ali fomos, ora através de verdes campos, ora floresta adentro, subindo a pouco e pouco até aos 982 metros de altura. Pelo caminho, cogumelos, árvores, flores, vacas, entre outros animais selvagens, e principalmente paisagens deslumbrantes, abrilhantadas pelo sol que, tirando a típica neblina matinal, não nos deixou durante toda a semana.

Eu, apesar de ter alguma altura e apreciar bastante as paisagens que as montanhas proporcionam, não posso dizer que me sinta totalmente confortável quando quase 1 quilómetro acima do nível do mar. Não pelos números, porque já estive bem acima disso, aquando da subida ao Etna. Mas digamos que estou melhor quando estou a olhar para a montanha, vista de baixo, do que no topo de um precipício com centenas de metros de altura. Fora isso, tudo bem. Para benefício dos meus leitores sou capaz de todos os sacrifícios, e uma vez tiradas as fotos necessárias, iniciámos a aguardada descida.

Tomando um caminho diferente, a experiência foi ligeiramente semelhante à da subida, com a importante diferença de que cansa menos descer. Durante a descida houve ainda a oportunidade de dar uma vista de olhos às ruínas de um castelo, bem lá em cima, usado como refúgio por santa Kinga, em 1297, durante uma das invasões dos Tártaros.

Uma vez terminada a longa descida, na localidade de Sromowce Niżne, atravessámos o rio para ir jantar à Eslováquia, na povoação de Červený Kláštor. Como bom Português, quando na dúvida, peço um bitoque. Como não sabia bem o que queria, foi mesmo uma versão Eslovaca do bitoque acompanhada de uma cerveja local. E que cerveja, meus amigos! Depois de alguns dias habituado a cerveja Polaca, que não é nada má, aquela cerveja Eslovaca soube-me pela vida. Valeu a pena lá ir só por causa disso. :)

E, mais uma vez, a falta de transportes na época baixa fez-se sentir. Eventualmente um táxi foi a solução encontrada. Depois de horas a caminhar, era irrelevante o meio de transporte para chegar à base, o que interessava era mesmo chegar lá para descansar.















O último dia completo nas Pieniny foi passado de forma mais relaxada, à volta do lago. Obviamente nunca sem caminhar. Fomos a Czorsztyn mais uma vez, desta feita para ver o castelo que, parcialmente em ruínas, domina a margem oposta a Niedzica, e mais uma vez efectuar a travessia do lago numa "gôndola", não sem antes saber o horário da última viagem de volta, para relaxar um pouco numa das esplanadas próximas da barragem.
















No dia seguinte fomos novamente até Szczawnica, desta vez para apanhar o autocarro de volta a Cracóvia. Com algum tempo nas mãos, fomos até ao local onde se situa uma das muitas nascentes existentes naquelas montanhas, para beber um pouco de água fresca e ainda comprar um pouco de mel da região, que me tem sido bastante útil nos últimos tempos.


E assim foi. De volta a Nijmegen, e com um atraso considerável no que toca a posts por escrever, espero que ao menos tenham ficado minimamente agradados com este extenso relatório e correspondentes fotos dessa bela semana nas montanhas Polacas.


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