quarta-feira, 21 de outubro de 2020

Importantíssimo assunto

Viva, caríssimos.


Como bem sabem, apenas escrevo neste espaço sobre os assuntos mais relevantes para todos nós.

Certamente os estimados leitores se questionam neste preciso momento acerca do assunto por mim criteriosamente seleccionado para este texto. A pandemia? A crise económica que a acompanha? O clima de tensão que se vive no país meu vizinho, a Bielorrúsia? O fim do mundo que se aproxima a passos largos?

Não. Na verdade venho escrever sobre algo muito mais crítico para o bem-estar de todos. Futebol, pois claro.


Começo então com o Benfica, o que muito há-de surpreender os meus leitores.

Depois duma época memorável, com Bruno Lage elevando-se ao Olímpo dos timoneiros Benfiquistas nos poucos meses da segunda volta do campeonato, eis que o mesmo Bruno Lage desce aos infernos nos poucos meses da segunda volta do campeonato seguinte, conseguindo até transportar-nos no tempo até aos deprimentes anos do nosso Vietname.

Como já deve ter sido comentado por inúmeras pessoas com opiniões válidas por essa internet fora, vou eu também tecer as minhas considerações relativamente a esse assunto, quer queiram, quer não.

A verdade possivelmente está algures no meio-termo, como é normal nestes casos. Como já cheguei a dizer sobre Rui Vitória, aquando do tri-campeonato, não me parece que Bruno Lage possa ser tão mau treinador como este final de época sugere, assim como possivelmente não será tão genial como o final da época anterior deu a entender. Certamente tem algo de bom e algo de mau, mas também acredito que irá melhorar. Como dizia o outro, um Ferrari não é para todos, e trocar uma bicicleta com rodinhas por um super-carro até correu bem inicialmente, mas só até aparecer uma curva mais apertada.

O milagre da época anterior deveu muito às novas ideias trazidas por Bruno Lage, mas talvez essas mesmas ideias tenham resultado pior um ano depois por serem menos novas, por ele não ter sido capaz de se reinventar para dar a volta por cima quando as coisas começaram a correr mal, por o nosso plantel não ser realmente grande espingarda, apesar de o ter parecido anteriormente (e tendo ainda por cima perdido alguns jogadores influentes sem serem substituídos adequadamente), por falta de atitude da equipa, ou quiçá por actos de bruxaria. Provavelmente foi antes uma combinação de todas estas razões, e mais algumas.

Pois bem, seja como for, o resultado foi desastroso e trouxe à memória o pico da nossa caminhada no deserto que foi o final da década de 1990 e o início da década seguinte. Pessoalmente prefiro não recordar essas épocas, excepto para efeitos humorísticos.

E eis que o presidente decide contradizer-se, esquecer tudo o que disse num passado muito recente, e desatar a investir desenfreadamente para construir uma equipa ganhadora. (Na verdade o presidente contradizer-se é algo que já faz parte, portanto não posso alegar surpresa.)

Jorge Jesus regressou ao Benfica, depois duma época brilhante ao serviço do Flamengo, ao que se seguiu uma série impressionante de boas contratações, com o internacional Belga Vertonghen, o internacional Brasileiro Everton "Cebolinha" e o internacional Alemão Waldschmidt à cabeça. Infelizmente esta aposta assumia uma qualificação para a Liga dos Campeões que, como se sabe, não se verificou, o que levou à venda do nosso mais valioso activo, Rúben Dias. Dadas as circunstâncias, este plano B acabou por ser necessário, mas o facto do plano A depender de uma qualificação não confirmada traz ao de cima um pouco da sobranceria que em parte levou ao desinvestimento das últimas épocas e, consequentemente, a perdas desnecessárias de troféus.

Esse desinvestimento, com o alegado objectivo de dar espaço às promessas da formação (ou melhor, aos activos que nos próximos anos se esperaria sairem por milhões), aliado à situação actual do mundo e consequentes problemas financeiros que traz ao futebol, faz com que este volte-face não tenha razão aparente. E seria efectivamente o caso, se não soubéssemos que as eleições estão à porta.

E aí é que está o problema.

Não me importo absolutamente nada que o Benfica contrate grandes jogadores. Estou até algo estupefacto que tenha conseguido atraír jogadores deste calibre. Assumindo que a saúde financeira do clube é relativamente boa (e se não for, então algo está muito mal, tendo em conta as vendas que temos feito, principalmente a do João Félix na época passada), contratações milionárias não me incomodam.

Também não me incomoda que Jorge Jesus tenha regressado. Longe de ser o único, é um grande treinador, e estou certo de que jogaremos mais. A novela em torno do relacionamento entre Jesus e o clube e/ou o presidente após a sua saída também pouco me importa neste momento. Não o culpo a ele por isso.

O que me incomoda é que Luís Filipe Vieira lembrou-se de repente que afinal o importante era que o Benfica ganhasse títulos. E, vendo que estão a surgir candidatos bastante válidos ao seu lugar, está desesperadamente a tentar manter o poleiro, do qual já deveria ter saído há muito tempo, na minha opinião.

Possivelmente vai resultar. Se com isso o Benfica ganhar títulos, menos mal. Mas preocupa-me que se venha a saber mais tarde que afinal este esforço financeiro não era assim tão viável ou que, sendo-o, na próxima época comece novamente o desinvestimento, independentemente dos resultados desta.

Os tiques ditatoriais do presidente também já me chateiam de sobremaneira há muito tempo. Uma das mais visíveis e absurdas provas deste comportamento nesta altura é a forma como a BTV é usada e abusada para propaganda presidencial e como eventos essenciais num período pré-eleitoral nunca terão lugar na televisão que deveria servir o clube. Falo da discussão das várias candidaturas, de debates entre os candidatos, enfim, essas coisas da democracia aparentemente sem importância para a actual direcção.

Faz-me lembrar a televisão pública Polaca, descaradamente emitindo propaganda do partido no poder. Mas isso é a Polónia, um país da União Europeia com 40 milhões de habitantes, o que não interessa nada. Quando estamos a falar do Benfica estas coisas tornam-se muito mais preocupantes.

Enfim, é melhor abrandar. Mas, caros consócios, cumpram o vosso dever e votem. Em princípio também o farei, mesmo à distância, se os atrasos na correspondência derivados da pandemia mo permitirem.

Voltando ao futebol. Apesar de tudo isto estou com algum entusiasmo, e no mínimo curioso para ver o que Jorge Jesus consegue fazer com esta equipa. O futebol, que é o que me interessa, só tem a ganhar com o seu regresso. E jogadores do calibre dos que chegaram também só trarão valor ao Benfica e ao futebol Português. E temos ainda o Braga com alguns reforços interessantes, incluindo, com muita pena minha, Nico Gaitan, que com Carlos Carvalhal ao leme pode fazer um campeonato muito interessante. O Porto será sempre um dos favoritos, o Sporting menos nesta altura, mas ainda assim há que contar com alguma qualidade. E no pelotão seguem de perto Rio Ave (que por muito pouco não eliminou o Milan) e Famalicão, depois de uma grande época, ainda o Guimarães, como já é costume, e quiçá o Boavista, com algumas movimentações interessantes no mercado. Com tudo isto, possivelmente teremos algum futebol de jeito esta época.

Para já, e tirando obviamente a inenarrável eliminação frente ao PAOK, esta equipa promete.

E para terminar os primeiros 45 minutos deste meu devaneio, lamento apenas que, no ano em que o Benfica finalmente se desloca aqui à Polónia para, espera-se, dar uma tareia ao Lech Poznań, estamos em plena pandemia. Sendo assim, duvido que alguma vez venha a ver o Benfica ao vivo na Polónia, já que as equipas Polacas não abundam nas competições Europeias, e geralmente não se aguentam muito tempo. Na verdade, o Benfica tem sido uma espécie de equipa Polaca nos últimos anos.


Mudando então do encarnado (ou qualquer que seja o nome da cor nas novas camisolas) para o amarelo torrado, tenho que falar também, obviamente, do Cambridge United.

A League Two (a quarta divisão Inglesa, a seguir a Premier League, Championship e League One) terminou com a chegada em força da pandemia, não se tendo efectuado os jogos que faltavam após o desconfinamento. Talvez tenha sido melhor assim, porque o Cambridge United estava a fazer uma época algo pobre, terminando em 16º lugar (de um total de 24), e durante a qual, tal como o Benfica, saiu o treinador e ficou um treinador interino para a terminar. Colin Calderwood saiu para dar lugar a Mark Bonner, que, ao contrário do que aconteceu a Nélson Veríssimo no Benfica, acabou por perder "interino" na sua descrição de emprego e continuar ao leme da equipa.

A espinha dorsal da equipa manteve-se, com algumas saídas e algumas entradas. Normalíssmo. Mas a verdade é que este início de época está a assemelhar-se às épicas carreiras que cheguei a fazer nos vários Championship Manager. E, tendo em conta as épocas passadas, é uma entrada a todo o gás. Foi já eliminado em Setembro da Carabao Cup, ou taça da liga, mas segue em primeiro no seu grupo do EFL Trophy e, mais importante que tudo isso, nas primeiras 7 jornadas da liga perdeu um jogo e empatou outro, seguindo na frente da tabela com a melhor defesa e o melhor ataque. Melhor ataque esse liderado por Paul Mullin, que assinou contrato após de ter passado os primeiros meses do ano já no clube, mas por empréstimo. Ainda ontem Mullin rubricou mais uma grande exibição frente ao Port Vale, com um hat trick. Nos 10 jogos que fez até agora já vai com 11 golos, o que basicamente faz com que esta já seja a sua melhor época de sempre em termos de golos marcados, e ainda agora começou.

Bem sei que isto mais dia menos dia e começa a correr mal, mas entretanto parece-me que este início auspicioso já está a deixar marcas psicológicas na equipa. Em vários períodos nos últimos jogos tenho visto bom futebol, posse de bola e muito menos do típico pontapé para a frente, que é a norma quando qualquer equipa daquele nível está menos à vontade. Nunca deixará de acontecer, mas estou a acompanhar estes jogos com muito mais confiança e interesse pelo futebol jogado.


No tempo de compensação gostaria apenas de deixar um curto apontamento acerca da selecção Portuguesa. Sempre gostei de jogos internacionais e de acompanhar a selecção, mas nunca estive tão entusiasmado com as possibilidades daquela equipa. Acompanho a selecção desde os tempos da chamada geração de ouro, recordada pelo belo futebol, mas sem conquistas internacionais. Vi (e espero não ter sido o único) a selecção vencer o campeonato da Europa há 4 anos, contra todas as probabilidades. Mas creio que hoje estamos na presença duma equipa potencialmente bem superior a essa que nos levou ao topo da Europa. A geração que está agora a maturar, juntamente com os putos absurdamente talentosos que aí vêm, e ainda com Ronaldo lá na frente e Pepe lá atrás, que parecem não envelhecer, deixa-me absolutamente convencido que agora sim, somos candidatos a ganhar tudo. Claro que chegar mesmo lá é outra coisa. Mas não é nada descabido considerar essa possibilidade.


E pronto. Vou pousar a caneta e ver um bocado de futebol.


Até breve!

sexta-feira, 24 de abril de 2020

Paciência musical

Ora viva, caríssimos, mas impacientes, melómanos!

É isso mesmo. Se sois pacientes melómanos, limitai-vos a ouvir as sugestões que aqui deixo. Está de volta o vosso snob musical favorito para belíssimas sugestões de superior bom gosto, mas que desta vez requerem paciência.



Tempo é o que parece não faltar a muita gente nestes tempos de quarentena pandémica. Mas tempo em abundância não significa que de repente toda a gente se desabitue da cultura fast food dos tempos modernos.

Quanto à comida não posso ensinar ninguém, porque também tenho pouca paciência para cozinhar durante horas. Mas quanto à música, acho que tenho algo a dizer. Estas linhas pretendem dar uma ensaboadela de composições musicais de longa duração nos ouvidos de vossas excelências, assim como criticar as rádios deste mundo que obrigam artistas a optar entre criar um radio edit, esse flagelo da actualidade, ou manter-se no anonimato.

Para quem se sentir com falta de paciência, sugiro um salto ao último vídeo deste post. Quem chegar ao fim desse vídeo sem se ver livre da impaciência não poderá incluir-se no restrito grupo de snobs que, como eu, consideram músicas longas como a segunda melhor coisa do mundo (melhor só mesmo álbuns longos constituídos apenas por músicas longas). Os sobreviventes podem então continuar.


Lamentavelmente vou excluir estilos musicais onde proliferam este tipo de composições por simplesmente conhecer muito pouco. Falo de música clássica, várias ramificações de jazz, variadíssima música electrónica e estilos que eu nem sequer faço ideia que existem. Mas a ideia pode ser aplicada praticamente a qualquer estilo.


Para começar com um interessante exercício, tenho aqui uma pequena maravilha musical (e visual, que o vídeo também vale a pena) pelos Sul-Coreanos Jambinai. Até pode ser interessante como exercício: pausar o vídeo aos 2 minutos, tirar conclusões, continuar, pausar novamente aos 6 minutos, tirar novas conclusões, e depois deixar ir até ao fim e tirar conclusões mais conclusivas.

Jambinai - ONDA



Duvido que as conclusões sejam idênticas. Isto é apenas um exemplo, e certamente existem também maus exemplos. Uma música longa também pode ser apenas aborrecida. Mas não é isso que queremos aqui, por isso vou avançar para o que me trouxe aqui.



Como podem imaginar, no meu início musical também estava exposto às mesmas rádios e músicas que toda a gente. Mas lentamente o meu gosto começou a afastar-se um pouco. E ainda mais lentamente fui percebendo que tinha uma certa tendência para as músicas longas. Não apenas por serem longas, mas talvez por consequentemente terem mais variações e não consistirem na típica estrutura da música pop. Nada contra músicas que sigam essa estrutura. Existem excelentes músicas em qualquer formato, mas se estou aqui para falar de músicas longas, venham elas.


Um dos primeiros exemplos que recordo vem duma banda mais ou menos de punk-rock. Mais ou menos, porque nesta altura já andavam a variar um bocado em relação aos seus primórdios. O contraste óbvio entre punk-rock, onde as músicas são tão imediatas que ao fim dos primeiros segundos já se sabe como vão soar até ao fim, e composições longas torna este um dos mais paradigmáticos exemplos do que aqui pretendo mostrar. Não é de estranhar, portanto, que de Americana, álbum dos Offspring que vendeu como pães quentes, o meu momento favorito fosse precisamente a última música, com uns impressionantes 8 minutos, num álbum onde abundam músicas com 2 e 3 minutos de duração.

The Offspring - Pay the Man


E o que posso dizer? Para Offspring, isto é impressionante, de facto. E para mim na altura também o foi. Não é nenhuma obra-prima, mas ainda hoje aprecio estes 8 minutos. Dava para ouvir duas ou três músicas ao longo desse tempo, mas não seria a mesma coisa.

Outro grande exemplo dessa altura, desta feita num álbum que é todo ele uma obra-prima, sempre se chegou à frente como a minha música favorita do fabuloso Mellon Collie and the Infinite Sadness, dos Smashing Pumpkins. Novamente perto dos 8 minutos de duração, desta vez não destoa tanto do resto do álbum, e é apenas a segunda composição mais longa. Mas, que grande música, meus amigos.

The Smashing Pumpkins - Thru the Eyes of Ruby


E isto não é necessariamente uma questão de estilo musical. Mesmo tendo em conta que os exemplos que já dei vêm de bandas que passavam na rádio, vários belíssimos exemplos de músicas mais longas vêm de estilos que eu geralmente não consumo e que encaixariam sem problemas em programação mais pop, como este bastante recente, dos Lo Moon, só para demonstrar o que acabei de escrever. Mas a variação de estilo estará bem presente ao longo do post.

Lo Moon - Loveless




E aqui entro em modo crítico. O já mencionado radio edit faz-me tanta confusão. Percebo a sua existência, mas essa é uma das razões de literalmente há anos não ouvir rádio nenhuma pela música. Por certo que algumas das músicas aqui mencionadas já passaram ou passam ainda nalgumas rádios, mas a maioria nunca teria grandes argumentos sem um corte considerável na duração. Outras nem que fossem curtas passariam, mas isso já mexe com questões de popularidade dos estilos musicais.

Na verdade não me incomoda particularmente que músicas que eu gosto não passem na rádio, porque de facto não as ouço. E se não as ouço também não posso estar certo de que as músicas que gosto não passam lá. No fundo tudo isto foi um pretexto para vos mostrar todas estas músicas e, porque não admiti-lo, passar horas a ouvi-las. Se o que estou a escrever não faz sentido, então se calhar o melhor a fazer é ignorar todo este paleio e ouvir o que deixei por aqui.

Mas continuando com aquela tentativa de raciocínio. Hoje existem rádios online ou podcasts com todo o tipo de conteúdos e os hábitos de consumo musical estão virados do avesso em relação ao que acontecia há uns anos, mas eu ainda sou um ouvinte algo tradicional. Não ouço rádio, mas exceptuando umas viagens online de descoberta musical, continuo a comprar e a ouvir os meus discos. Certamente um dos hábitos que se perdeu, e que eu recuperei um pouco com o regresso ao vinil, foi o acto de apenas ouvir música. Ter a música como som de fundo quando se está a fazer outra coisa é normal, e eu também o faço, mas simplesmente ouvir música é raro hoje em dia. Talvez também por ser obviamente pouco produtivo, contrariamente a, por exemplo, ver séries. Sem dúvida que ter os olhos e os ouvidos ocupados engana mais do que ter apenas os ouvidos ocupados. Se a falta de tempo no mundo moderno é o problema, há que aproveitar a quarentena! Se mesmo assim não houver tempo, então nunca haverá.

Tudo isto para dizer que uma das consequências dessa falta de tempo é a falta de paciência para ouvir música, e é aí que entra finalmente a razão para este texto. Sei que aquilo que ouço não é para todos, e escrevo isto sem estar em modo snob. Ao longo da minha vida já me deparei inúmeras vezes com situações de trocas de sugestões musicais, em que a minha sugestão foi substituída por outra ao fim de poucos minutos devido à incompreensão dos ouvintes, ou à falta de paciência. Claro que isto foi antes de eu próprio ter compreendido que nem toda a gente tem essa paciência, e nesse caso se a música não estiver já completamente desenvolvida ao fim de 1 ou 2 minutos, é para esquecer.


Agora que já acalmei, continuo desta feita para o exemplo que conheço há mais tempo, e que sempre foi uma das minhas obras de arte preferidas dos enormes Pink Floyd. Comecemos então com esta composição que, dependendo do álbum, colectânea ou concerto, tem diferentes partes anexadas.

Pink Floyd - Shine On You Crazy Diamond


E esta, hein? Ninguém canta absolutamente nada até aos 7 minutos. Deviam estar a poupar na voz. Pois claro, o rock progressivo dos anos 70 está repleto de longos e belos exemplos como este. A certa altura comecei finalmente a explorar esse mundo que me fora introduzido pelo meu pai ao longo da minha infância. Os próprios Pink Floyd têm várias outras composições tão ou mais longas que esta, mas esta sempre esteve comigo e, convenhamos, é fantástica. Deixo-vos mais alguns dos inúmeros e geniais exemplos dos majestosos anos 70: os progressivos GenesisYes e Jethro Tull, os menos progressivos mas mais pesados Led ZeppelinRainbow, os clássicos Queen, e ainda uma pérola Portuguesa, pelo Quarteto 1111, de José Cid.

Genesis - The Musical Box


Yes - Close to the Edge


Jethro Tull - Thick as a Brick (Pt. 1)


Led Zeppelin - Stairway to Heaven

Rainbow - Stargazer

Queen - The Prophet's Song


Quarteto 1111 - Onde, Quando, Como, Porquê, Cantamos Pessoas Vivas (Lado A)


Para mais exemplos dos anos 70, procurai. Procurai, que eles abundam. Desde os meros 8 ou 10 minutos até aos extremos em que todo o álbum é uma única composição. É certo que ao longo de 40 ou mais minutos nem todos os momentos parecem pertencer à mesma música, mas para mim até faz mais sentido assim. Afinal de contas, embora esteja a dar exemplos de músicas individualmente, a minha preferência vai para ouvir o álbum todo, do início ao fim.

E aqui fica mais um exemplo de um álbum sem divisões, desta vez por Echolyn, uma banda mais recente de rock progressivo, com o seu grande Mei, um álbum já dos anos 2000.

Echolyn - Mei



Depois duma bela dose the rock progresisvo, avanço agora para uma das bandas que me iniciou nas lides mais pesadas, apesar de os ter apanhado numa fase mais calma. Falo dos Metallica, cujo álbum ao vivo S&M mostra bem a simbiose que música mais pesada pode ter com arranjos orquestrais. E como não ficar rendido a este extraordinário instrumental com mais de 9 minutos de duração?

Metallica - The Call of Ktulu


E é inevitável tornar a colocar o descritivo "progressivo", mesmo que associado a metal, quando se fala de músicas longas. Um nome que vem logo à cabeça é Dream Theater, dos quais teria muito por onde escolher. Opto talvez pela sua mais longa composição, e que ouvi vezes sem conta, absorvendo toda a sua melancolia enquanto descobria esse mundo simultaneamente progressivo e pesado, mas nunca limitado a esse dois descritivos.

Dream Theater - A Change of Seasons


Seguimos então no rumo do metal mais ou menos progressivo, sendo que a próxima é sempre difícil de categorizar. Tool, mais uma banda de culto da qual recomendo acima de tudo a obra-prima chamada Lateralus - o álbum todo, de preferência, embora esta música tenha o mesmo nome.

Tool - Lateralus


O senhor que se segue compõe e executa com mestria algumas das mais emocionantes ondas sonoras que o metal progressivo já produziu. E aqui refiro-me a todo o tipo de emoções. O grande Devin Townsend, neste caso com uma música retirada de Terria.

Devin Townsend - Earth Day


Porcupine Tree era a principal banda que Steven Wilson usava como escape para a sua criatividade antes de se lançar em nome próprio. E posso recomendar tudo o que ele fez e faz, e a variedade é imensa. Esta não é das mais longas, mas foi das primeiras que me ficou na memória, por ter sido através de In Absentia o meu primeiro contacto, e também por seguir um pouco a ideia muito usada no post-rock de ter uma explosão final depois de largos minutos de calma mas segura progressão.

Porcupine Tree - Gravity Eyelids



Post-rock, esse poço de emoções. Já são uns 20 anos a ouvir post-rock, e ainda hoje me sabe pela vida ouvir algo novo que me emociona como só o post-rock consegue. É aquele estilo musical que me deixa em transe e que consegue extrair de mim aquelas emoções que geralmente fecho cá dentro. Estes senhores são para mim (e para muita gente) sinónimo desse género musical e, como já escrevi noutro estaminé, se os meus ouvidos estourarem de vez, que seja num concerto de Mogwai, nos acordes finais desta música. Ainda assim, já tive a felicidade de a ouvir ao vivo várias vezes.

Mogwai - Mogwai Fear Satan


E agora, sem muitas explicações (melhor, senão nunca mais saio daqui), seguem-se mais alguns longos exemplos de post-rock que fui ouvindo ao longo dos anos. Sigur RósExplosions in the SkyMonoos Portugueses Indignu e Catacombe, e ainda os lendários Godspeed You! Black Emperor. E muitos mais poderia ter escolhido, mas é melhor avançar.

Sigur Rós - Svefn-g-englar


Explosions in the Sky - First Breath After Coma


Mono - Ashes in the Snow


Indignu - Caravela na Ponta dos Dedos


Catacombe - Ninho de Vespas


Godspeed You! Black Emperor - Moya



Agora seguimos aleatoriamente para algo que introduz novamente alguma metalada, mas devagarinho. Alcest, pelo menos quando mais os ouvi, estavam algures na fronteira do post-rock, com longas e melodiosas composições, e ainda alguns vestígios muito ténues do seu negro e metálico passado.

Alcest - Ecailles de Lune, Pt. 1


Algo semelhante posso dizer dos Islandeses Sólstafir, se bem que a sonoridade seja bastante diferente. Ainda assim encaixa bem aqui.

Sólstafir - Lágnætti




E que tal um pouco de stoner ou metal psicadélico? Os Americanos Elder trazem-nos excelentes exemplos de longa duração, assim como os Portugueses Black Bombaim ou os Italianos Ufomammut.

Elder - Dead Roots Stirring


Black Bombaim - Titans (Lado A)


Ufomammut - Empireum




E daqui passo de novo para Portugal, e para os grandes Sinistro. Do melhor que tenho ouvido nos últimos anos, e tudo em Português. Que bem que soa este doom metal adaptado à melancolia Portuguesa. Melancólico e lento, como tem de ser. Aqui vai uma música que não é das mais longas, mas é ainda assim fantástica.

Sinistro - Relíquia


A banda seguinte vem da Suécia e foi daquelas mais difíceis de sugerir, na altura em que descobri este álbum. Naturalmente, imaginava eu, apelaria aos metaleiros. Mas aquela introdução lenta e longa fazia a maioria perder a paciência. Enfim, eu ainda aqui estou a ouvir a primeira música de Salvation, dos Cult of Luna. E não devo ser só eu. Basta ter paciência. Vale a pena.

Cult of Luna - Echoes


E já de seguida mais alguns exemplos Portugueses bem pesados com o negrume a vir ao de cima: Process of Guilt, Gaerea e finalmente Névoa, já a entrar em território de black metal.

Process of Guilt - Feral Ground


Gaerea - Whispers


Névoa - The Absence of Void




Só para terminar com os exemplos negros, que também abundam, damos um salto à Noruega para ouvir Enslaved, uma das bandas pioneiras do black metal, aqui a torná-lo mais interessante que o costume, e ali ao lado à Finlândia, com o black/folk metal épico de Moonsorrow e o death metal melódico, sinfónico, épico e sei lá mais o quê de Wintersun. Tudo belos, longos e épicos exemplos do que as gentes da metalada fazem pelas músicas compridas.

Enslaved - Storre Enn Tid


Moonsorrow - Jotunheim


Wintersun - Sons of Winter and Stars




E obviamente que numa lista como esta não poderia faltar Ayreon. Em todos os seus álbuns poderia encontrar alguma música que encaixaria aqui na perfeição. Esta é do último e é um épico exemplo de metal progressivo.

Ayreon - The Day that the World Breaks Down


Se Ayreon era obrigatório, Opeth ainda mais. Uma das minhas bandas favoritas e talvez a que me incutiu mais o gosto por músicas longas, que enchem os seus álbuns. Por isso mesmo, e pela variabilidade que foram apresentando ao longo dos anos, deixo aqui alguns exemplos, desde os seus primórdios com mais elementos de metal extremo até à actualidade, onde o rock progressivo tomou conta da situação.

Opeth - In the Mist She Was Standing


Opeth - The Drapery Falls


Opeth - Ghost of Perdition


Opeth - De Närmast Sörjande




Já que nenhum dos 3 leitores que começou o texto chegará aqui, não interessa muito o que eu escreva nesta fase. Vou apenas acalmar a coisa para terminar de forma a que isto não seja só prog e metal e afins. Deixo então uns minutos de James Blackshaw e a sua guitarra e mais uns quantos de Lubomyr Melnyk e o seu piano contínuo (neste caso com a voz de Peter Broderick). O vídeo final é um bónus para os mais pacientes. A definição de paz.

James Blackshaw - The Cloud of Unknowing


Lubomyr Melnyk - Pockets of Light

Özgür Baba - Dertli Dolap



Até breve!

domingo, 12 de abril de 2020

Actualização quarentenária

Saudações, caríssimos!

E esta, hein? Estamos em plena pandemia e eu ainda não arranjei tempo para actualizar o blog. Na verdade, quando a última entrada foi publicada já o vírus se transmitia a grande velocidade na China, e quiçá noutros países, mas ninguém esperava que desta vez fosse diferente das anteriores e realmente chegasse tão longe com tanta pujança.

Em todo o caso, e tendo em conta a panóplia de filmes apocalípticos ao nosso dispor, incluíndo aqueles onde em vez de morrer as pessoas se transformam em zombies famintos por cérebros humanos, este vírus não é mau de todo. Os números algo assustadores devem-se principalmente a uma falta de preparação para um cenário que não é propriamente inesperado, mas que só se conseguiria explicar às pessoas com o dito cujo já a decorrer, com infectados e mortos em catadupa. Ninguém aceitaria ficar em casa por causa dum vírus sem ter visto do que é capaz. Da próxima vez é possível que estejamos mais bem preparados.

Sendo assim, ter que ficar em casa é algo aborrecido mas não difere assim tanto do que eu já fazia, e tendo uma profissão que me permite trabalhar a partir de casa (bem sei que sou um privilegiado por isso), não fiquei de repente com muito mais tempo nas mãos do que aquele de que dispunha antes. O que mais me chateia é que o local onde fabrico cerveja e afins fica a 3km de casa, pelo que esse meu passatempo está fora de questão neste momento, a não ser que mude oficialmente de residência para lá.

Enquanto as medidas de combate à pandemia não aliviam posso, ainda assim, lembrar os momentos aos quais ainda não dediquei as devidas linhas neste espaço, mesmo que de forma muito sucinta, e talvez depois escrever sobre outros assuntos que me suscitem interesse (isto já sou eu a ser optimista sobre a vontade de escrever).


Recuamos então uns meses até meio de Novembro de 2019, em Poznań, para a minha participação na segunda conferência Europeia de fabricantes de hidromel, numa altura em que ajuntamentos eram ainda permitidos e até encorajados.

A primeira conferência decorrera um ano antes, no mesmo local, e deu-me oportunidade de conhecer inúmeros fabricantes de hidromel caseiro ou comercial de toda a Europa. Nesta segunda edição pude conhecer ainda mais, inclusive vários Americanos que vieram cá para esse evento.

A conferência em si foi interessante, mas mais entusiasmante foi obviamente o convívio com hidromeleiros de todo o mundo, alguns bem conhecidos no mundo do hidromel, convívio esse bem regado com o produto do trabalho de toda essa gente.

O outro ponto alto desses dias em Poznań foi a formação de juízes, seguida da competição (Mead Madness Cup) na qual tive mais uma vez a oportunidade de julgar hidroméis de uma sub-categoria específica. Desta vez enviei um par de hidroméis para competir, e um deles acabou em segundo lugar na categoria M4A (os resultados estão aqui), na qual entram braggots, que no fundo são híbridos entre hidromel e cerveja (pelo menos metade dos açúcares iniciais vêm do mel e o resto vem do malte de cevada ou outros grãos). Não se preocupem. Os meus próprios hidroméis nunca seriam julgados por mim. Se fosse esse o caso acho que teriam possivelmente piores resultados.

Cada vez que participo num evento destes apercebo-me mais do quanto tenho a aprender, e embora agora seja oficialmente juiz de hidroméis (apenas reconhecido pela associação Europeia para já), tenho muito a treinar ainda para sentir confiança naquilo que estou a escrever na ficha de pontuação. Com tempo e trabalho essa confiança virá. Bem sei que não é fácil explicar este conceito de "trabalho" para quem olha para ele como sendo "beber e dizer se é bom ou mau", mas aprofundarei essa temática noutra altura.


Para fechar em beleza, pude ainda participar em dois dias de visitas às instalações de dois produtores comerciais de hidromel aqui na Polónia: Imbiorowicz e Pasieka Jaros. Fomos em modo visita de estudo, num autocarro onde, ainda por cima, foram também os restos dos hidroméis avaliados durante a competição, portanto continuámos o nosso "trabalho" de juízes durante a viagem. No entretanto tivemos também oportunidade de visitar o museu da apicultura em Swarzędz, perto de Poznań, e de ver um pouco da cidade de Łódź.





Já prometi isto antes, mas vamos ver se a quarentena me empurra um pouco para finalmente escrever algo mais específico sobre hidromel e a arte do seu fabrico. Desta feita, continuo sem especificar datas, mas quem sabe um dia destes...


E para terminar com um pouco de música, avanço uma semana até ao último concerto onde marquei presença, no final de Novembro. Refiro-me a Powerwolf, uma banda Alemã de power metal com uns toques de humor em temas místicos e até religiosos.


Pujança, boa disposição, e temas algo negros mas ainda assim contrastados com a cadência positiva do power metal, até que não cai mal nesta altura, sendo hoje dia de Páscoa.



Fiquem bem, e de preferência em casa! Até breve!

domingo, 19 de janeiro de 2020

Metal Progressivo nos Países Baixos

Bom dia, boa tarde ou boa noite, caríssimos.


Com mais de meio ano de inactividade neste espaço, é tempo de voltar a trazer úteis e interessantes informações para todos vós. Ou então isto é simplesmente um exercício e uma ajuda para minha memória.

Deixando o Verão para outras escritas, já que o passei a tentar organizar o espaço onde agora me posso dedicar ao fabrico de maravilhosas bebidas alcoólicas, passo directamente para as primeiras semanas de Setembro de 2019.

Devido ao baptizado dos nossos sobrinhos gémeos (isto na Polónia é sempre a dobrar), deslocámo-nos para Noroeste. A viagem, que se pretendia sem sobressaltos, acabou por correr bem, tendo em conta a sorte que tivemos. Um acidente rodoviário abalou-nos mas apenas resultou em prejuízos materiais.

A localidade de Łagów foi onde passámos um par de dias agradáveis. É uma zona que merece uma visita com mais calma e, de preferência, com sol, já que com uma irritante morrinha não apetece muito dar um salto até ao lago.



De seguida fomos para a zona de Poznań, de onde voaríamos uns dias depois. Entre visitas a família em Luboń, passeios por Poznań e Gniezno, o berço da nação Polaca, bem como curtas experiências no mundo da apicultura, o tempo foi passando.






E eis que voamos para a Holanda, quase três anos depois da despedida. À chegada tivemos uma curta passagem por Den Bosch a caminho da minha velha conhecida Nijmegen. Nesta viagem não fomos propriamente com ideias de ser grandes turistas, pelo que nos limitámos a passear um pouco e descansar, sem grandes preocupações fotográficas.






Foi tempo de rever amigos e dar umas voltas pelos arredores da cidade. Ir às melhores panquecas, às melhores batatas fritas e, como é óbvio, às melhores cervejas. Isso, e tirar a única foto que queria mesmo tirar. Sempre gostei daquela vista. Muitas vezes passei por aquele viaduto de bicicleta e a visão dos comboios a "descansar" depois de um dia de trabalho ficou-me no imaginário. Neste caso foi à noite, mas a imagem que tinha em mente era no crepúsculo. De qualquer forma, foi preciso ir lá de propósito para finalmente fotografar a cena. Agora tenho que voltar para tirar uma foto como deve ser.



Na sexta-feira 13 demos um salto a Tilburg para o evento que constituiu o pretexto para esta viagem. Ver Ayreon ao vivo, no 013, para celebrar o aniversário de Into the Electric Castle. Uma noite dedicada a esta grade ópera de rock/metal progressivo.



Depois fomos para Norte, com uma curta passagem por Enschede para visitar uma amiga, em direcção a Groningen, onde ainda reside o meu companheiro de muitos concertos desde os tempos de Vila do Conde. Desta feita não fomos ver concerto nenhum mas passámos um sossegado fim-de-semana com boas histórias, boa música e um frikandel XXL, um dos destaques da cozinha Holandesa, embora recomende que seja consumido com pouca frequência.



Uma semana que passou num ápice mas que soube bem. Acho que não tenho por hábito demonstrar grande nostalgia pelos sítios onde fui feliz, mas por outro lado parece que acabo sempre por regressar, nem que seja para rever as pessoas, algumas imagens que me ficaram na memória, e para de alguma forma me sentir melhor onde quer que esteja.


Doei!