sábado, 26 de outubro de 2013

Final de época doloroso

Saudações, caríssimos!


Como já alguns se terão apercebido, o título refere-se ao grand finale da época futebolística 2012/2013.


Eu, como qualquer Benfiquista, no início do passado mês de Maio estava bastante confiante num desfecho de época favorável para a minha equipa. Até que, como muitos se lembrarão, se deu o empate em casa contra o Estoril.

Os fantasmas do passado começaram a aparecer. Por muito que queira dizer que não, a verdade é que o Benfica não tem sido um clube ganhador. Muito menos nas deslocações às Antas.

Como é costume, estava com pouca vontade de ver esse jogo acompanhado. Quando estou sozinho deito tudo cá para fora, quando estou com alguém não sou capaz de o fazer. E geralmente estes jogos são de um sofrimento inexplicável. Muito lá no fundo, eu até gostaria de não ter preferência clubística. Tal como quando vejo um jogo de futebol estrangeiro. Não quero saber quem ganha, só estou a deliciar-me, ou a aborrecer-me, com o futebol jogado. Mas isso é de todo impossível, já vou tarde.

Acabei por ver o jogo juntamente com outros Portugueses residentes em Nijmegen, e alguns estrangeiros à mistura. O resultado já se sabe. Há poucos momentos em que mostro os meus sentimentos aos outros, e talvez por isso prefira ver estes jogos sozinho. É que não dá para esconder, e muito menos naquelas circunstâncias.

Como tem sido seu apanágio nos jogos grandes, o Jesus entrou com cagaço, e isso, aliado àqueles acasos que muitas vezes tendemos a chamar azar, terminou com uma derrota. Tenho dificuldade em chamar-lhe azar, mas compreendo que quando um gajo chamado Kelvin, que anda agora a rodar na equipa B, marca um grande golo já bem nos descontos e com isso nos tira o campeonato, não haja muito mais formas de qualificar esse acontecimento.

Já extremamente a frio, e sem ter muito frescas as memórias dessa altura, reforço o que disse ainda no parágrafo anterior: cagaço. O Jesus tem sempre cagaço nestes jogos. Depois de uma grande época, e depois de um mau resultado que punha em causa a primeira posição, foi às Antas para empatar, sem tentar assumir o jogo. Não posso considerar que aquele resultado tenha sido injusto, porque o Benfica não tentou ganhar. O facto de ter sido com um golo ao cair do pano é um detalhe.

Enfim, foi doloroso. Mas mesmo assim, e com um bilhete para a final de Amsterdão, uns dias depois, este era o meu estado de espírito.




Depois, a final da Liga Europa.

Já tinha garantido o meu lugar muitos meses antes, quando a UEFA disponibilizou bilhetes para o público em geral. Era em Amsterdão, por isso tinha a oportunidade de ver uma final Europeia. Se o Benfica lá chegasse, muito melhor. E chegou mesmo.

Tínhamos o poderoso Chelsea pela frente. Poderoso, mas não tão poderoso como em anos anteriores, e portanto julgo que ao nosso alcance, especialmente nessa época.



















Como poderão compreender, no final do jogo não estava com vontade de tirar fotos. Desta vez já não podia queixar-me do cagaço do Jesus. O Benfica efectivamente tentou vencer este jogo, e teve oportunidades para isso. Podíamos ter saído dali com a taça sem precisar que acontecesse um milagre.

Tivemos oportunidades para marcar na primeira parte, mas a nossa ineficácia acabou por sair cara, já que na segunda parte os Ingleses passaram a criar mais perigo. O resto foi de uma ironia atroz. O golo nos descontos, tal como uns dias antes.

De cabeça quente, mal o árbitro apitou para o final do jogo, saí do estádio sem olhar para trás. Na altura, ainda a quente, escrevia que quase que dava para acreditar na existência de uma entidade superior lá em cima (que sempre conheci como Deus). Ainda hoje olho para essa semana e penso, com um sorriso, que isto não é possível sem a intervenção de algo ou alguém. Isto era um sinal claro de que estávamos a ser gozados à força toda. Duas derrotas decisivas seguidas, confirmadas nos descontos? Mas o que é isto? Se alguém escrevesse um filme assim, nunca passaria do papel, porque seria demasiado inverosímil.


Bem, ainda assim achei que tinha de ir à Catedral no último jogo do campeonato para apoiar a equipa, frente ao Moreirense. Raramente vou a um jogo. Muito por causa da distância, é certo. Quando o Benfica passa por perto, normalmente estou lá. Mas desta vez quis fazer algo mais.

O jogo já seria pouco relevante, mas o facto de termos o estádio com mais de 50000 pessoas num jogo que, com 95% de certeza, não nos traria nada de novo, mostrou que havia muita gente com a equipa. Ou muita gente mesmo muito crente. Mas tal como esperava, a vitória desse jogo já de nada serviu.

Já agora, um aparte. A pedra que podem ver na foto já a seguir, e que está às portas do estádio na Praça dos Heróis, é resultado da minha mania por acrónimos.
































Curiosidade: naquele último jogo a água Vitória decidiu abandonar o estádio e ignorar o pedaço de carne que certamente a esperaria caso aterrasse no sítio certo. Talvez estivesse a ver já o que se seguiria.


Uma boa parte da gente que estava com a equipa deve ter-se arrependido na final da Taça. Já não me lembro, nem quero lembrar-me, das incidências desse jogo, mas esse sim foi uma vergonha. Não é por ter acontecido o que aconteceu antes que tinham o direito de se borrifar para o segundo troféu nacional. Com isso já não sofri quase nada, porque já não estava para isso.


O que se seguiu foi uma torrente de piadas futebolísticas criadas pelos adeptos rivais acerca do terceiro troféu perdido. Mas lamento dizer-vos que a qualidade da maioria dessas piadas estava muito abaixo do mínimo recomendável. Sou capaz de me rir das minhas desgraças, mas só quando faço delas uma piada em condições. Daí que tenha sentido a necessidade de dar um exemplo. Vi tanta piada triste que até uma simples piada com uma cerveja Tripel era capaz de ser engraçada. A rivalidade futebolística seria muito mais saudável se as piadas fossem melhores.





Bem, agora a nova época. A verdade é que nesta altura ainda não me "entrosei" com a equipa. Não tenho acompanhado os jogos como no ano passado, muito por causa daquele trauma de final de época. E a verdade é que a equipa e o Jesus também não se estão a entrosar muito bem, possivelmente ainda devido a sequelas da final da Taça. Aquilo não pode acabar bem, a não ser que a entidade que inteveio no final da época passada intervenha agora em sentido oposto.


Enfim, é claro que vou continuar a sofrer com a equipa e a acompanhar os jogos sempre que possa, mas estou muito mais na defensiva desta vez.

Há muito potencial naquele plantel, mas penso que o Jesus já perdeu a confiança dos jogadores há muito tempo. Há também as suas teimosias do costume. Independentemente dos seus jogadores ou nacionalidades fetiche, que variam consoante a época, ele costuma deixar sempre de fora os jovens Portugueses, a não ser que não haja outra hipótese. E assim, embora com um plantel de qualidade, continuamos a ter vários jogadores estrangeiros cujo valor deixa muitas dúvidas, enquanto que os putos nacionais vão mostrando valor na equipa B ou nos empréstimos a que são submetidos, sem que com isso ganhem lugar.

Esperemos que Jesus ainda consiga ver a luz, caso contrário já se sabe qual é o seu destino, normalmente 40 dias a seguir ao Carnaval.



Saudações de um lampião!

Bélgica

Caros leitores,


Com a intenção de retomar a escrita normal, vou tentando preencher o blog com aquilo que de relevante foi acontecendo nos últimos meses.


Voltando ao final do passado mês de Abril, quero escrever algumas palavras sobre uma viagem de alguns dias em que percorri, devidamente acompanhado, algumas cidades Belgas, de modo a aproveitar o dia da rainha (desta feita o último, já que entretanto ela abdicou do trono para que o seu filho se tornasse rei), feriado na Holanda.

Embora já resida por aqui há algum tempo, nunca me tinha dedicado a conhecer um pouco do país vizinho, exceptuando uma curta visita há pouco mais de um ano a Bruxelas.

Entretanto fiquei cada vez mais interessado em fazer uns quilómetros e atravessar a fronteira, interesse que se deve muito ao gosto que fui ganhando pelas cervejas desse país.

Com poucos dias para passear por lá, defini um percurso que nos levasse a Brugge, com duas paragens pelo meio.


A primeira noite foi passada ainda na Valónia (parte da Bélgica onde a língua falada é o Francês), em Dinant.

Uma cidade pequena e com história, por ter uma localização estratégica, num vale ao longo do rio Mosa, e pela protecção natural que este lhe dá. Não é necessário muito tempo para a visitar, pela sua dimensão. Rapidamente se caminha pela cidade de uma ponta à outra. Por estar entre o rio e uma elevação rochosa onde se situa uma cidadela, a cidade foi crescendo ao longo do rio, não tendo por isso um centro bem definido.

Pudemos ver a igreja de Notre Dame e depois subimos à cidadela, onde os guias tentavam activamente convencer os turistas a segui-los. Pagávamos para ir até lá acima (ora de teleférico ora subindo as 408 escadas que datam do século XVI), mas caso seguissemos o guia havia uma gorjeta implícita no final.

Para além da bela vista da cidadela, há histórias interessantes naquele forte. A cidade foi devastada diversas vezes ao longo da história, incluindo nas duas guerras mundiais.

Ao longo do forte pode ver-se, para além dos itens históricos locais, algumas reconstituições da vida no local no início do século XIX. Uma das atracções mais interessantes do local é uma reconstituição das trincheiras do rio Yser de 1914. A certa altura, podemos entrar numa simulação de um abrigo desmoronado, em que os nossos sentidos são desafiados. Com o chão e as paredes na diagonal, caminhar a direito torna-se mais complicado do que teria imaginado.

Como curiosidade, nesta cidade localiza-se a abadia Notre-Dame de Leffe, onde foi crescendo a tradição cervejeira. Depois de ter fechado e retomado a produção mais de uma vez, finalmente foi reaberta nos anos 50 do século passado. A cerveja Leffe, hoje bastante conhecida, começou lá. Hoje em dia é produzida em larga escala noutros locais, pertencendo à maior empresa cervejeira do mundo, a Belga-Brasileira AB InBev.

Um dos pontos de interesse gastronómico da cidade são as couques de Dinant, umas bolachas de que gostei bastante, feitas com mel e farinha de trigo. O senão, e é isto que faz com que não seja para todos, é que são extremamente duras. A única forma de as comer sem partir os dentes é tirando bocados minúsculos e mastigando com cuidado.

Foi uma passagem curta por esta cidade, mas voltaria a fazê-lo. Gostei bastante.
























A paragem seguinte foi já na região de Flandres (onde se fala o Neerlandês, ou Flamengo, o nome que dão à mesma língua quando falada na Bélgica), em Ghent.

Uma cidade universitária, bem maior que Dinant, e com um aspecto que me é familiar, tendo nítidas semelhanças com algumas cidades Holandesas, com vários canais ao longo da cidade.

O centro histórico da cidade é bastante aprazível, e não fosse o facto de ainda termos uns quilómetros para fazer nesse dia, teríamos muito para ver.

Não tenho muito a dizer acerca da cidade, talvez por ter visto muito mais do que em Dinant, e por isso ter memorizado menos detalhes.

Depois de termos ido a um restaurante onde a selecção de cervejas se encaixava nos diferentes pratos disponíveis, comecei a perceber que realmente a Bélgica é bem diferente da Holanda nesse aspecto. Os Belgas têm efectivamente comida que se pode chamar tradicional. E mesmo que não o seja, é geralmente de qualidade. Talvez seja influência Francesa, mas há ali uma tentativa de fazer boa comida, muita criatividade, e muitas vezes combinações muito boas entre o prato e uma cerveja em particular, que era o que eu procurava.

Antes de seguirmos viagem, dedicámos uma boa parte do dia a passear pelo centro, ao longo dos canais, e terminámos com uma visita ao castelo local.

Em geral uma cidade bonita e que merece uma visita mais longa.
















































A cidade final, e onde passaríamos mais tempo, seria Brugge (como se escreve em Neerlandês), a mais esperada.

Infelizmente o clima não quis ajudar, e durante parte da visita a chuva mostrou-se. Mas mesmo assim creio que a cidade fez jus à sua reputação.

É uma cidade belíssima, o que leva inevitavelmente a que as suas principais atracções estejam povoadas por turistas, se bem que o facto de não ser a época alta atenuou um pouco esse ponto.

Os belos edifícios que proliferam pelo centro histórico, os canais que juntamente com a arquitectura circundante proporcionam imagens que preencheriam com qualidade qualquer postal, os parques e lagos feitos propositadamente para terem um aspecto romântico, tudo isto acaba por contribuir para que a cidade nos deslumbre.

Isso e, mais uma vez, a comida. As boas cervejas são uma certeza, como já seria de esperar. Mas poder degustar comida preparada já a pensar nesse acompanhamento é algo que ainda não é comum noutros países.

Para finalizar o fim-de-semana prolongado, nada como visitar as instalações onde ainda é produzida uma das cervejas da marca mais popular da cidade, a Brugse Zot.

Depois foi só ir a uma das inúmeras lojas de cerveja e carregar a mala do carro com esse precioso conteúdo.

















































Fiquei bastante agradado com a viagem. Deveria ter sido mais longa, mas acho que seria sempre esse o sentimento independentemente da duração. Belas cidades e boa comida combinada com boa cerveja. Nestes aspectos a Bélgica é do melhor.



Doei!