sexta-feira, 15 de fevereiro de 2019

Música do meu 2018

Ora viva, amantes de boa música!

Estou de volta para um muito atempado rescaldo do meu ano musical.


Já mencionado na edição anterior desta seminal rúbrica blogosférica, o mais recente disco de Sinistro - Sangue Cássia - foi crescendo em mim ao longo do ano. Poderoso, emotivo e sensual. O detalhe de ser cantado em Português contribui para uma certa parcialidade da minha parte, por certo, acabando por ter mais impacto em mim, ao ponto de algumas músicas me trazerem lágrimas aos olhos. São actualmente uma das minhas bandas de eleição.



Mais um repetente, desta feita devido à sua passagem por Cracóvia. Ao longo do ano o mais recente álbum dos Moonspell manteve-se nos meus ouvidos com alguma regularidade.



Mais um álbum de origem Portuguesa. Proggy, psicadélico, com longas composições cheias de criatividade. Como posso não gostar dos The Quartet of Woah?



E ocasionalmente, por entre todo o prog, post-rock, metal e outros que tais, surge uma pérola pop que se cola no meu ouvido. O álbum é bom, se bem que nem sempre estou com pachorra para ouvir tudo. Mas esta música em particular é fabulosa. Chamam-se Lo Moon e caíram na minha colecção musical de pára-quedas.



As minhas raras incursões neste tipo de música têm muitas vezes como protagonista este senhor. Mais uma vez, Moby teve que fazer parte do meu ano musical.



Meus velhos conhecidos dos tempos em que eu começava a sentir-me atraído pela ilha verde, os Lúnasa lançaram mais um álbum, e mais uma vez com sons que me remetem para as minhas boas memórias Irlandesas.



O que mais dizer sobre Eels? Já lá vão tantos anos, que por esta altura eu simplesmente compro cada álbum novo que sai sem ouvir nada de antemão. E venham mais. É sempre um prazer acompanhar o que sai da imaginação de E.



No seguimento do concerto de Elder, o seu mais recente álbum - Reflections of a Floating World - tornou-se indispensável nas minhas audições. O seu som etéreo e psicadélico, em que as longas composições me põem em transe, tem adquirido contornos de maior complexidade que me enchem as medidas mais do que nunca.



Os Portugueses Indignu mais uma vez criaram um grande álbum. Umbra é melancólico, como teria que ser, já que a sua grande inspiração veio dos incêndios do ano anterior. Em certos momentos fazem-me lembrar o melhor de GY!BE.



Before and After Science surgiram-me perante os olhos e ouvidos num dos vídeos do canal de Youtube Porta 253. O seu post-rock musculado não é particularmente novo, até porque o seu álbum é recente mas as músicas nele incluidas nem por isso. Ainda assim estão bem conseguidas e ganharam um lugar indiscutível nesta lista.



Eu sei que isto está a ficar um pouco repetitivo, mas prometo que vale a pena. Mais uma banda Portuguesa de post-rock. Parece que temos tendência para estes sons, se bem que esta banda apresenta umas quantas variações. Mas têm que admitir que Urso Bardo é um grande nome.



Nos últimos anos, os novos álbuns de Dead Combo têm tido presença garantida na minha colecção. Mais uma vez aconteceu. Não é algo que ouça com muita frequência, mas sei que está lá para quando precisar de um som acolhedor, com tantas influências de fora sem nunca perder o seu quê Português.



Mais um projecto do prolífico Devin Townsend, Casualties of Cool é bastante calmo quando comparado com os seus restantes projectos, mas não deixa de ter a sua marca.



O álbum que se segue é épico. É diferente de qualquer coisa que tenha frequentado os meus ouvidos com assiduidade até aqui. É para entrar em transe. Hypnopazūzu é sublime.



E, com o Outono a aproximar-se, as coisas voltam a pender para sons mais pesados. Neste caso um metal épico, não particularmente agressivo e com uns toques de folk. Tendo em conta os meus gostos, Moonsorrow encaixam que nem uma luva.



E agora o panorama escurece consideravelmente. Por esta altura lia a biografia dos Moonspell e, embora fosse ouvindo de vez em quando a banda em questão, o que esta leitura despoletou foi a audição das suas influências durante a juventude. Black Metal, portanto. Um daqueles sub-estilos de metal que nunca soube bem como se definia ou como se distinguia de outros nos seus extremos, como Death Metal, e no qual nunca me interessei particularmente, apenas com algumas excepções na fronteira com outros estilos.

A partir daí, e no resto do ano, múltiplos nomes deste estilo foram aparecendo nos meus auscultadores. Há inúmeros exemplos que, para o meu gosto, ultrapassam demasiado a fronteira do audível, passando a ser simplesmente uma mescla de distorção, gritos estridentes e uma cacofonia indistinta. Por outro lado, outros exemplos podem até ter alguma piada, mas as suas letras, ao invés de serem negras, misteriosas e interessantes, não passam de declarações de ódio, racismo, nacionalismo, entre outros sentimentos e ideologias de grande beleza. É por essa mesma razão que o Black Metal me devolveu o interesse pelas letras, que em grande parte se fora perdendo (com algumas notáveis excepções, como Ayreon). Sendo bem conseguidas e interessantes em muitos casos, convém de qualquer forma estar atento às entrelinhas. Excepto, claro, quando são cantadas em Nórdico Antigo - o que não percebo não me faz mal, certo? Certo?...

Peço desde já aos leitores mais sensíveis de ouvido que saltem uns nomes à frente, ou então que parem por aqui. Afinal de contas já tiveram oportunidade de ouvir grande música sem ficarem com uma opinião demasiado negativa sobre mim.


Começo, portanto, com um dos exemplos mais clássicos: o primeiro álbum mais Black Metal de Darkthrone - A Blaze in the Northern Sky. Embora não seja algo que eu vá ouvir muitas vezes, consigo até apreciá-lo, já que tem variabilidade suficiente para não ser absolutamente aborrecido.



Mais uma banda Norueguesa, também dos primórdios do Black Metal. O segundo álbum de Immortal encaixa-se bem naquilo que referi atrás acerca do que considero ficar aquém do exagero. As suas letras são de facto negras, misteriosas e interessantes, o seu som não é demasiado lo-fi, e violentam os nossos ouvidos com ondas sonoras com uma cadência impressionante. O álbum dura sensivelmente meia hora, mas é meia hora sempre a abrir.



E se referi que o álbum anterior é sempre a abrir, tenho que referir Lawless Darkness, dos Suecos Watain. Um exemplo de Black Metal muito mais tardio que os clássicos, com uma duração acima dos 70 minutos, mas não menos a abrir, e cheio de variabilidade e momentos interessantes.



Um dos álbuns que ficou desta caminhada de descoberta foi o primeiro de Blut aus Nord, criado há mais de 20 anos em França. Já tinha tentado ouvir isto no passado, mas como muitos outros exemplos deste estilo, nunca me puxou nada. No entanto, na minha fase musical actual este álbum, com toda a sua distorção de baixa-fidelidade a fazer lembrar um frio cortante, os gritos angustiantes e aquele ambiente de desespero, deixa-me por vezes colado ao chão, estático. Tantos anos depois sinto ter compreendido por fim esta última fronteira do metal, e este é um dos seus mais bem conseguidos exemplos.



Como já referi, a maioria dos "clássicos" de Black Metal continua a não me impressionar particularmente. Consigo compreender melhor a essência do estilo, mas ouvir um álbum inteiro de gajos projectando os seus estridentes gritos por entre a cacofonia gravada em equipamento propositadamente mau resulta de facto num ambiente tenebroso, mas por vezes também me cansa e aborrece, salvo raras excepções. Daí que as minhas preferências se direccionem, regra geral, para as bandas que apresentam uma interpretação do estilo algo mais elaborada, e portanto desvalorizada pelos puristas. Enslaved é uma dessas bandas, mais uma com origem na Noruega naquele fértil e conturbado período musical. E em Mardraum têm momentos brilhantes, com uma espécie de Black Metal Progressivo que me mantém atento e interessado e não se perde em radicalismos lo-fi. Tem os elementos interessantes do Black Metal, mas não exagera, e é aí que eu prefiro estar.




...and Oceans apresentam uma abordagem bem mais suave ao estilo, com diversos elementos sinfónicos e sintetisadores a abrilhantarem o que seria de outra forma enfadonho.



E eis que chegamos a uma interpretação do Black Metal completamente oposta à praticada pelos criadores do estilo. À custa disto os Holandeses que se seguem devem ser detestados por muita gente. Produção límpida, letras violentas mas claramente só para efeitos dramáticos, diversos instrumentos, orquestrações, complexidade nas composições e um grande aparato teatral na sua performance. Carach Angren, com Lammendan, criaram uma obra prima de terror musical. Uma história de terror contada com Black Metal do mais sublime que já ouvi, com expressividade, pomposidade, complexidade, e ainda assim de uma intensidade brutal. Este é daqueles álbuns para ouvir de uma ponta à outra sem parar. E se, neste caso, até se consegue perceber as letras um pouco melhor, tendo em conta o estilo, não dispenso a sua leitura para acompanhar a música.



E agora mudando de estilo, mas mantendo o negrume. No seguimento da descoberta do Black Metal, mergulhei no mundo do metal em geral, lendo sobre a história dos diversos sub-estilos e procurando exemplos clássicos de cada um. Um dos sub-estilos que mais me cativa, e não é de agora (sendo Black Sabbath os pioneiros), é o chamado Doom Metal. Portanto, negrume, desespero, depressão, etc, emoções não muito distantes das proporcionadas por muito Black Metal. Mas aqui a parte musical muda radicalmente, sendo composta geralmente por riffs negros, poderosos e também lentos (exemplos extremos levam esta lentidão a tal ponto que mais não se distingue que longuíssimos e graves zumbidos). Já tive oportunidade de ver ao vivo esta banda Sueca, no festival Roadburn a que me desloquei há uns anos em Tilburg. Mas nesta minha caminhada de descoberta, este épico álbum bateu-me de tal maneira que é já um dos meus favoritos de metal em geral. São os Candlemass, e o título do álbum diz tudo: Epicus Doomus Metallicus.



Prosseguindo pela história do metal, desta feita passamos os ouvidos pelos clássicos Helloween. Com uma nota bem mais positiva, a caminho do Power Metal, é das melhores coisas para ouvir quando estou a trabalhar, naquele momento em que descodifico a tarefa que tenho pela frente e começo a escrever código. A cadência e ambiente positivo que este estilo cria tornam-no um dos mais motivadores.



Mais um clássico, desta feita duma espécie de Speed Metal em que os temas andam à volta de piratas. Running Wild, os pioneiros do metal pirata, portanto.



E para terminar de forma mais melodiosa, falta referir os Polacos que tive oportunidade de rever ao vivo em Cracóvia. O mais recente álbum de Riverside tem permanecido até agora nas minhas audições e por lá continuará.




E pronto, espero não ter incomodado demasiado os vossos ouvidos.


Até breve!