domingo, 25 de novembro de 2018

I conferência Europeia de hidromeleiros

Saudações, caríssimos leitores!


Já lá vão uns quantos anos desde a primeira vez que relatei neste espaço eventos festivos por altura do meu aniversário. Desde então as festividades têm-se reduzido ao mínimo. Este ano, no entanto, as coisas seriam diferentes.

As festividades em si foram mais uma vez reduzidas ao mínimo, mas quis a sorte (ou, para ser mais preciso, quiseram os organizadores) que a primeira conferência de sempre de fabricantes de hidromel (hidromeleiros, à falta de outra palavra) a nível Europeu decorresse no meu dia de aniversário, na cidade de Poznań, aqui na Polónia.


Perante uma coincidência desta envergadura, não pude deixar de estar presente.


A conferência foi organizada de forma algo espontânea, partindo do que seria um pequeno encontro de convívio que acabou por crescer o suficiente para mudar de nome. A localização e data foram definidas pelo facto de já decorrer há alguns anos um festival e competição de cerveja artesanal de alguma dimensão em Poznań naquela altura (Kraft Roku), e também por ser aquela a cidade natal dos organizadores (o grupo Kings of Mead).

Uma pequena competição de hidroméis caseiros foi também organizada e daria seguimento à conferência. Desta vez não competi porque infelizmente desde que me mudei para cá ainda não recomecei a minha produção de fermentações alcoólicas.


Quanto ao evento propriamente dito, devo dizer que a organização fez um grande trabalho, principalmente tendo em conta a espontaneidade e o improviso com que tudo foi feito, bem como um orçamento inexistente.

As apresentações foram variadas e interessantes não apenas para quem está por dentro do fabrico destas bebidas (posso comprovar este facto porque não fui sozinho).

Ao longo do dia tive também oportunidade de conhecer uns quantos hidromeleiros de diversos países Europeus e ter conversas que não costumo ter com ninguém por geralmente causarem uma sonolência notória nos ouvintes que não sejam obcecados pelo assunto.


A competição que se seguiu à conferência trouxe-me uma inesperada tarefa. A organização da competição teve de recorrer à ajuda do público, já que o número de hidroméis recebidos (cerca de 60, em 4 categorias) foi maior do que o inicialmente estimado. Daí que uma grande parte dos hidromeleiros (profissionais ou amadores) presentes foram também juízes. Eu fui um deles, e embora seja uma experiência para recordar, é algo que tenho de treinar.

Provar hidroméis é fácil. O problema está em identificar correctamente os aromas, sabores, bons e maus, e perceber o porquê de estarem ali. E depois pôr essa informação no papel, mais concretamente na ficha de pontuações, sem estar a ser injusto para com o/a criador/a daquela bebida, e talvez até conseguir dar algumas dicas para melhorar o produto.

Estive numa das mesas de prova dos melomels (hidroméis com frutos usados na sua produção). Dois ou três deles eram de grande qualidade e o resto andava entre o médio e o fraquinho. Os menos bons eram os mais difíceis de julgar. Perceber quais são as falhas e tentar explicar como poderiam ter sido evitadas requer, creio eu, mais experiência (tanto a julgar como a fabricar a bebida) do que tenho neste momento. Fiz o que pude, mas da próxima farei melhor.


Acabou por ser um dia memorável, com muitos hidroméis e conversas sobre os mesmos. Tenciono em breve retomar este meu passatempo e competir para o ano (se conseguir fazer alguma coisa digna, lá está). Tenciono também escrever mais, especificamente sobre este assunto, num outro espaço que se encontra neste momento em obras, espero que não por muito mais tempo.


Para terminar, o vídeo que os Kings of Mead fizeram para cobrir o festival Kraft Roku. Só praticamente no último minuto mostram um pouco da conferência e competição na qual me vi inesperadamente envolvido, mas como acabei por nem sequer tirar fotos enquanto por lá estive, é o melhor que se arranja.



À nossa!

terça-feira, 23 de outubro de 2018

Riverside w Krakowie

Caros leitores,

Há poucos dias fui a mais um concerto, o que há uns anos atrás seria uma actividade corriqueira, mas que hoje não é tão frequente assim. Desta feita para ver a minha banda Polaca favorita, e repetente neste espaço, Riverside, para apresentar o seu mais recente álbum - Wasteland.




Ultimamente tenho andado mergulhado nas profundezas do metal mais negro e / ou agressivo (tentarei falar disso noutra altura). Para este concerto tive de mudar bastante o estado de espírito, se bem que há sempre algum negrume presente na música de Riverside. Em todo o caso, a música atmosférica que praticam sempre teve alguns toques de metal, tendo no entanto derivado cada vez mais para o bom velho prog rock. Um pouco na onda do que foi fazendo Steven Wilson (antes como Porcupine Tree).

Este novo álbum tem belos momentos acústicos e bastante atmosféricos, outros fáceis de acompanhar pelo cantarolar do público ao vivo, outros até com algum groove, mas o rock progressivo manifesta-se em grande nos tipicamente longos trechos de guitarra e teclado a fazer lembrar os grandes anos 70. Os que mais puxam por mim, para além dos delirantes momentos prog, acabam por ser os momentos algo negros e melancólicos (há poucos anos faleceu o guitarrista da banda, o que também transparece um pouco neste álbum).

Acima de tudo este foi o regresso, com qualidade, de uma banda consagrada que vou seguindo há muitos anos e na qual sempre notei genuíno prazer quando estão perante uma sala cheia no seu país natal. Na verdade nunca os vi fora da Polónia, mas duvido que a atmosfera seja a mesma.

Walfad e Spiral abriram a noite. Walfad (We are looking for a drummer) não vi e não conheço, mas parecem ter um som interessante. Spiral também merece uma audição mais atenta. Com toques de post-rock e variantes, como math-rock, electrónica e sabe-se lá mais o quê, a trazer-me à memória concertos por vezes de Cosmic U, por vezes de Mammut, dependendo da instrumentação e da forma como a voz é usada, e por vezes não me traz à memória nada disso.


Walfad - Nasi Bogowie, Wasi Bogowie




Spiral - Crumbs




Spiral - Gravity




Riverside - Vale of Tears




Riverside - River Down Below




Riverside - Lament





Do widzenia!

domingo, 14 de outubro de 2018

Alimentando os lobos

Saudações lupinas, pacientes leitores!


Já passaram uns meses desde os meus últimos rabiscos neste espaço cada vez menos activo, mas apenas pouco mais de uma semana desde a minha mais recente visita à Ibéria.

Como já vem sendo hábito, os meus planos de visitar cem pessoas e fazer mil coisas revelaram-se demasiado ambiciosos. Para compensar, fomos dar de comer aos lobos. Literalmente.


Há uns 3 anos participei financeiramente numa campanha lançada pelo Grupo Lobo com o intuito de angariar fundos para assegurar a propriedade onde se encontra o Centro de Recuperação do Lobo Ibérico, na zona de Mafra. Como recompensa, deveria ter lá ido passar um fim-de-semana para conhecer o trabalho que lá se desenvolve, mas devido à minha geral falta de disponibilidade por viver no estrangeiro, bem como às mudanças que desde então ocorreram, acabei por nunca o fazer.

Entretanto recebi um lembrete por parte das pessoas envolvidas no Grupo Lobo, e ficou combinado que lá iríamos passar um par de dias e experimentar um pouco do dia-a-dia dos voluntários que ajudam nas diversas tarefas de manutenção do centro e seus inquilinos.

Não tenho fotos dos lobos para apresentar. Não tanto por falta de oportunidade (embora permissão por escrito, assinada em triplicado pelo lobo em questão, seja necessária), mas principalmente porque não me pareceu correcto ir lá como se de um jardim zoológico se tratasse e importunar os lobos com a minha incapacidade de captar imagens dignas. A prioridade ali é o bem-estar dos lobos e a sensibilização para a presente ameaça à sua sobrevivência, não o entretenimento dos humanos que por ali passam. De qualquer forma estão disponíveis algumas imagens no site (aqui os que actualmente lá habitam, que podem ser "adoptados").

Não sabia o que esperar de tal estadia, excepto que seria certamente inspirador estar perante animais que trazem consigo uma certa mística e cuja imagem me remete para tempos idos em que avós e netas com capuchinhos vermelhos eram perseguidas pelos bosques.

Ainda existem algumas centenas de lobos Ibéricos em liberdade, números em muito inferiores aos do passado, mas ainda assim melhores do que os do mais ameaçado lince Ibérico. Portanto, não sendo o "último reduto" dos lobos em Portugal, é um abrigo para alguns deles que por diversas razões não podem ser postos em liberdade.

Neste momento vivem naquele vale 13 lobos, 2 ou 3 em cada cercado (ocupam cerca de 4.5 hectares dos 17 hectares do centro). Embora tenha ficado pouco tempo, acabei por memorizar os nomes de todos eles, e o impacto desta estadia foi tudo menos ténue.

Conseguimos vislumbrar quase todos os lobos, mesmo sendo alguns deles bastante tímidos, principalmente quando há estranhos por perto. O facto de termos ajudado aquando da alimentação contribuiu para isso, como é óbvio, mas não deixa de me trazer um sorriso aos lábios. São criaturas fascinantes e sempre presentes na mitologia Ibérica, e observá-los num estado relativamente selvagem tem o seu quê de mágico.

Embora não seja nada selvagem ter humanos a alimentá-los, os horários e o tipo e quantidade de "ração" são variáveis, de modo a minimizar o hábito (basicamente não queremos que eles se tornem cães). E no que consistia esta nobre tarefa? Em lançar ovelhas indefesas para o interior do covil dos malvados lobos? Bem, infelizmente (ou felizmente para as ovelhas) não era bem isso. 

Tínhamos uma espécie de talho improvisado, onde preparávamos todo o tipo de carne (fora de prazo para os humanos, mas os lobos não se importavam) de acordo com o que cada lobo deveria comer naquele dia. Não é, portanto, uma tarefa agradável ou limpa, mas a parte divertida vem logo a seguir.

Com um balde para cada lobo percorríamos o vale e lançávamos os pedaços de carne por cima das cercas. Então granadas de carne explodiam ao atingir o chão, ou frangos inteiros depenados pareciam voar para o seu juízo final. Por vezes era necessário distrair um dos lobos com alguma carne de tamanho considerável antes de alimentar o(a) companheiro(a), para evitar que o mais velho/fraco/lento se alimentasse de forma insuficiente devido a um roubo.

Depois era a expectativa. Afastávamo-nos para uma zona mais recôndita e esperávamos observar os lobos que esquecessem um pouco a timidez e decidissem comer. Todo aquele trabalho de talhante valia a pena nesse momento.


Bem sei que romantizo um pouco a coisa. Os lobos selvagens, a natureza, a vida em harmonia com as outras espécies, incluindo a nossa. Isto simplesmente não acontece. Tanto no passado como no presente muitos dos espécimes em liberdade acabam por morrer por envenenamento, apanhados em armadilhas ou atingidos por um tiro. Havendo mais lobos, mais casos destes ocorrem também. Só se o seu território estiver de alguma forma vedado ao nosso contacto é que isto não acontece.

Iniciativas de recuperação de espécies como esta levada a cabo pelo Grupo Lobo são de louvar, embora ache que, com o rumo que os problemas ambientais levam, serão cada vez mais difíceis de sustentar. Estas bestas da espécie homo sapiens sapiens destroem cada vez mais o habitat não só das outras espécies como também o seu. Depois não sei quem irá criar o Centro de Recuperação do Humano Ibérico.


Considerações apocalípticas à parte, não posso deixar de recomendar que visitem o centro, que se inscrevam como voluntários se pretenderem pôr as mãos na massa, ou que "adoptem" um lobo. E não se esqueçam de ter sempre na mala do carro um par de frangos ou, se tiverem um monovolume ou um SUV, uma ovelha, para o caso de encontrarem um lobo faminto pelo caminho.


Até breve!

sábado, 14 de julho de 2018

São Miguel

Saudações, caríssimos leitores!


Serve esta breve tentativa de prosa para transformar em palavras a curta viagem que fiz com meus pais e sua futura nora a uma pequena parte do belíssimo arquipélago dos Açores.

Açores. Esse local exótico que preenche o imaginário Português com paisagens deslumbrantes e fenómenos diversos originados no coração do planeta, e o estômago Português com belíssimos queijos, ananases e inúmeras iguarias extremamente apelativas.

Não tenciono alongar-me na escrita porque muito ficou por explorar e sei que terei de regressar, possivelmente várias vezes. Isto não fica assim, Açores!


A viagem cingiu-se à maior ilha do arquipélago, São Miguel, por manifesta falta de tempo para sequer pensar em dar um salto a qualquer outra.

A partir do momento em que começámos a dar umas voltas pela ilha inúmeras memórias Irlandesas anunciaram a sua presença na minha mente. Não há como evitar. A paisagem repleta de colinas verdejantes onde imperturbáveis vacas pastam e de destemidas falésias que mergulham a pique mar adentro apresenta uma semelhança evidente com a ilha verde onde habitei. O clima incerto, embora mais ameno, não deixa de me trazer à memória os belos momentos de chuva e morrinha que vivi na Irlanda.

Mas as diferenças começaram a surgir à medida que nos afastávamos da costa, com a origem vulcânica da ilha a manifestar-se. Os vestígios dos antigos vulcões, com crateras gigantes preenchidas por fotogénicas lagoas, fumarolas, águas termais, comida cozinhada com o calor da Terra, trazem ao de cima a verdade explosiva dos primórdios daquela montanha que um dia decidiu aparecer à tona. E para os mais atentos, as cidades pejadas de rochas vulcânicas no pavimento, nas casas, nas igrejas, nos jardins, são também uma boa indicação.


Devo dizer que quase nada sabia daquela ou das restantes ilhas. As paisagens que vira ao longo dos anos não faziam justiça, como é óbvio, ao que os meus olhos puderam presenciar. As cores, os cheiros, os sons, tudo trouxe uma nova dimensão ao que fui experienciando. O azul esverdeado das águas rodeadas de vegetação diversa, o cheiro a enxofre que viaja com o vapor ao sabor do vento a partir das fumarolas em ebulição, o horizonte azul a toda a volta, o cozido, o atum, o espadarte e o tubarão, os ananases, o chá, o queijo fresco com pimenta da terra, os bons modos de toda a gente. E ainda as celebrações do dia de Portugal com pompa e orgulho.

Quero voltar. E que não demore muito!












































Até breve!

domingo, 6 de maio de 2018

Penta-lampião

Saudações Benfiquistas, caríssimos!


Como já deverão ter reparado (se não repararam possivelmente não têm qualquer interesse em ler o que quer que seja sobre este assunto), o FC Porto sagrou-se ontem campeão nacional, tendo bastado esperar pelo final do jogo entre os dois principais rivais. Parabéns aos campeões, foguetes e cenas, e é tudo o que tenho a dizer em relação a isso. Não é sobre esse clube que pretendo escrever, já que ao longo da época só vi dois ou três dos jogos em que estiveram envolvidos.

Com isto o Benfica perde a primeira oportunidade de alcançar o penta-campeonato, se bem que eu não estou com pressa relativamente a essa conquista. Mas de quem é a culpa?

Eu consigo pensar em alguns possíveis culpados. Desde logo o treinador. Já várias vezes concluí que não sou a maior autoridade na análise do jogo. Entre uma primeira má impressão, seguida de uma redenção, acabei por estar mais perto da segunda opinião do que da primeira aquando da conquista do tetra

Mas este ano a minha flutuante opinião voltou a pender para as primeiras impressões. Este Benfica sem Jonas parece que mais não faz do que bombear a bola para a frente, na esperança de que uma das motas consiga ganhá-la. E não me apetece sequer mencionar o que acontece quando Fejsa não está presente, para não ficar deprimido. Com isto não posso declarar a incompetência de Rui Vitória, mas creio que mais deveria ter sido feito para que a equipa... como dizer... jogasse futebol.

Temos também o presidente. Sim, o Benfica voltou a ser campeão com Vieira, tem cenas de betão que foram construídas durante o seu reinado, faz dinheiro como nunca com vendas, e no entanto nunca estive tão farto de um presidente. A sede de poder, com o abalroamento de estatutos pelo caminho, os esquemas duvidosos com os quais deve fazer pouco dinheiro, já para não falar do discurso egocêntrico nas vitórias e o apontar de dedos em todas as direcções nas derrotas, mesmo tendo sido o grande responsável pelo enfraquecimento do plantel ano após ano (o treinador que se safe).

Gostaria de um dia saber mais sobre o que realmente se passa nos bastidores, porque bonito não deve ser. Nunca quis ter um Pinto da Costa no Benfica (muito menos alguém que quer ser como ele), mas infelizmente não posso escapar à realidade. Eu já votei neste personagem, e todos os dias a minha alma chora um pouco por causa disso.

Depois, os árbitros. Os árbitros? Vá lá, não brinquem comigo. Não quero saber de arbitragens. É este tipo de discurso que não suporto, nem quando há razões para isso. As queixas dos clubes grandes relativamente aos árbitros dão-me vontade de rir e ninguém me consegue convencer da inocência de qualquer desses clubes.


Já em diversas ocasiões me referi ao circo que é o futebol Português. E, ao mais alto nível, o futebol é um antro de corrupção. Basta lerem alguns livros sobre o assunto (este ou este, por exemplo; existem também alguns exemplos em Portugal, mas neste caso tudo é mencionado muito a medo, sem dizer nomes e certamente muito fica por dizer) para se perceber até onde vai a sujidade do futebol. Porque deveria o futebol Português ser diferente? E porque perco eu tempo com isto?

Já escrevi sobre questões que me incomodam no futebol (inclusive as palhaçadas que ocorrem durante os jogos), bem como algumas razões para me ter tornado adepto de um clube grande em Portugal. Continuo a questionar-me regularmente sobre isto, e cada vez tenho menos razões que me convencem.


Tendo em conta que é mais fácil implementar um plano ambicioso neste âmbito quando se perde do que quando se ganha, usarei este pretexto para tentar manter a sanidade mental durante a próxima época. Quero, no entanto, deixar aqui uma nota. Isto não se trata de abandonar quem quer que seja nos maus momentos. Nenhum Benfiquista que viveu a última década do século passado e a primeira deste pode ser acusado de não aguentar com derrotas.

O meu plano é experimentar não ver absolutamente nada que envolva competições futebolísticas Portuguesas. Não sei se consigo, ou se quero, deixar de ver futebol completamente, porque não é o desporto em si que me desilude. Mas tentarei ver futebol de qualidade, interessante, e sobretudo com o qual não me tenha que chatear. Não faltam jogos interessantes por esse mundo fora. Se quiser ver o Benfica posso sempre ver os jogos da pré-época ou as competições Europeias, enquanto lá estivermos.

Reparem que usei a palavra "estivermos". Não creio que isto vá mudar as minhas preferências clubísticas, de todo. Mas estou curioso sobre quão bem ou mal sucedida será esta experiência. Pode ser que em Setembro já tenha sucumbido à ansiedade, ou que em todo o caso acabe por regressar ao meu velho hábito de ver os jogos do costume. Mas por outro lado posso dentro de um ano estar aqui a escrever sobre a minha experiência, sobre a minha nova pessoa, como se podem converter ao Budismo, como cozinhar arroz de marisco sem marisco, e quem sabe não estarei a fazer milhões com o lançamento de um best-seller sobre isso e muito mais.


Até lá, despeço-me com amizade.

Elder

Cordiais saudações, caríssimos!


Com a assiduidade a sofrer devido a inúmeras e importantíssimas tarefas que ocupam o meu tempo, venho, ainda assim, divulgar a banda que tive a oportunidade de ver ao vivo esta semana. Falo de Elder.



Já sigo esta banda Americana há uns anos e desta feita passaram aqui em Cracóvia. Cada vez mais aprecio este tipo de concertos. Bandas ainda pouco conhecidas a tocar num sítio pequeno, com uma plateia que sabe estar perante música não necessariamente fácil, mas muito gratificante.

Se calhar podia tentar descrever o que se passa na sua música, em que misturam alguns dos meus estilos favoritos, resultando numa espécie de Stoner Psicadélico Progressivo, onde músicas com 10 minutos de duração não são nada de anormal. Mas tendo em conta a minha incapacidade e/ou falta de vontade, bem como a provável falta de interesse da maior parte da população naquilo que tenho a dizer sobre o assunto, o melhor mesmo é ouvir.








Do widzenia!

sábado, 27 de janeiro de 2018

Moonspell @ Kraków

Saudações, caríssimos melómanos!


Não tenho ido a muitos concertos nos últimos tempos. Por um lado há menos oferta por aqui, quando comparado com o que passava por perto de Nijmegen. Mas também falta a vontade, por vezes.

Desta vez a vontade não podia faltar, no entanto. Tinha visto estes senhores já algumas vezes no passado (embora também os tenha visto no futuro), e mais recentemente em Nijmegen.



Não me refiro a Cradle of Filth - berços de porcaria nunca me puxaram muito - mas aos Portugueses Moonspell, que ainda há pouco referenciara na lista dos sons que mais passaram pelos meus ouvidos ao longo do ano passado.

Desta feita estão em digressão pela Europa a apresentar o novo álbum, 1755, um disco conceptual sobre os dramáticos eventos de 1 de Novembro desse ano.

O meu interesse nesta banda foi evoluindo ao longo do tempo. O seu segundo álbum - Irreligious - sempre ficou, para mim, no topo da lista. Nos anos seguintes continuava a segui-los principalmente por serem Portugueses, até que o interesse se reacendeu nos álbuns mais recentes. Ainda assim nenhum deles ameaçava o lugar do Irreligious. Isso mudou em Novembro passado. 1755 é emocional, é brutal, é de um andamento impressionante, e é totalmente em Português.

A sensação de estar num concerto dos Moonspell, em Cracóvia, e poder acompanhar as letras na minha língua materna é nova para mim. Quase todo o concerto foi em Português, e mesmo os clássicos que tocaram incluíam alguma estrofe neste idioma.

Não duvido que a importância que estou a dar a este disco está fortemente relacionada com o facto de estar fora do meu país há uns bons anos e de ter cada vez menos contacto com a cultura Portuguesa, agora que vivo na "distante" Polónia. Veio na altura certa, para mim.

Os Polacos sempre gostaram de Moonspell. Eles vibram com os clássicos dos primeiros álbuns, principalmente. Ainda assim é bom ver que os Moonspell foram ganhando um estatuto que lhes permite lançar um disco totalmente em Português e ainda assim bem recebido no estrangeiro, particularmente na Polónia, com toda a plateia a entoar Alma Mater como se fosse o hino nacional.


Quanto aos Cradle of Filth, não sei. Talvez até me venha a arrepender, mas como nunca me interessei particularmente pela banda, nem sequer fiz questão de ficar para o seu concerto. Viemo-nos embora no intervalo. O que eu queria mesmo ver estava visto.


Agora façam o favor de ouvir e adquirir esta obra-prima.





Até breve!

sexta-feira, 5 de janeiro de 2018

Música do meu 2017

Viva, caríssimos!


Para mim 2017 foi um ano com baixos e altos. Os baixos ameaçaram tomar conta de mim, mas os altos acabaram por prevalecer e ganharam uma dimensão que nunca tinha experienciado.

Tanto para um extremo como para o outro, a música sempre esteve presente, e foi mesmo fundamental para manter um mínimo de sanidade mental, transportando-me para aquele mundo paralelo onde os problemas são momentaneamente esquecidos, onde eu posso até chorar de emoção, mas onde, de forma aparentemente improvável, a moral acaba a sair por cima.

Deixo aqui uma lista daquilo que mais fui ouvindo ao longo do ano e que, por uma série de razões ou por razão nenhuma, fez sentido na altura em que foi ouvido. Estão mais ou menos por ordem cronológica daquilo que fui ouvindo.


Caixa de Pandora. Uma pérola que encontrei no fim do ano anterior e que passou a fazer parte da minha banda sonora. Emocional, de uma beleza ímpar, ainda bem que decidi ouvir um pouco daquele CD no qual, talvez por sorte, pus as mãos.



André Barros. Mais um nome Português que começa a aparecer internacionalmente. Trouxe o disco na mesma fornada de Caixa de Pandora e ficou também registado para seguir futuramente.




Agnes Obel. Já minha conhecida dos tempos da Holanda. Agora com um som um pouco mais trabalhado, mas tão belo e etéreo como antes. Continua a valer a pena segui-la.




Devin Townsend. Já meu conhecido também. A minha teoria relativamente à minha predilecção por sons pesados é que, para além de abanarem o cérebro consideravelmente, permitem que as emoções retidas pela minha introversão nas profundidades da minha mente saiam de rompante assim que estes sons entram. Não com quaisquer sons, no entanto. Como já tive oportunidade de explicar aquando do concerto deste senhor, o som de Devin Townsend (ou parte dele, porque ele tem diversas facetas) é do mais emocional, positivo e libertador que consigo imaginar. Quando digo que choro ao ouvir estes riffs, não estou a ser metafórico. E que bem me fez ir àquele concerto naquela altura.




Wardruna. A banda sonora da série Vikings está repleta de músicas desta banda. Folk Viking, pagão, ou outra qualquer denominação que lhe queiram dar. Talvez devido ao seu lado negro aparece por vezes na secção de metal das lojas de música. Negro, mas belo, e poucos sons acompanham tão bem um copo (ou um corno) de hidromel.




Crippled Black Phoenix. Embora os conhecesse há uns anos, nunca os tinha ouvido muito atentamente. Até agora. Provavelmente este não é o seu melhor álbum, mas foi o que finalmente me apanhou.




Katatonia. Mais uma banda que demorei até experimentar devidamente. Algo para o lado depressivo, mas o som encaixa perfeitamente nas minhas preferências.





Ayreon. O que dizer? Foi de longe o que mais ouvi ao longo do ano. Depois de várias obras primas, com óperas de rock/metal progressivo, com toques de tudo um pouco, com músicos e vocalistas de topo, sempre com uma história por trás, desta vez sai mais uma obra prima que nos apresenta uma prequela para vários dos discos anteriores, onde a origem dos Forever (se querem saber quem são, vão lá ouvir) é revelada. Enquanto que o álbum anterior era mais prog, este é mais pesado e mais orientado pelas guitarras do que pelos teclados, mas que maravilha que é ouvir. E por favor ouçam o álbum inteiro. Se há álbuns que merecem uma audição completa, este e os outros de Ayreon estão entre eles por certo.





Between the Buried and Me. Eram a banda de suporte de Devin Townsend, mas acabei por perder esse concerto. Mais tarde arrepender-me-ia, mas pelo menos tive a felicidade de encontrar o vocalista no novo disco de Ayreon e decidi ouvir esta banda um pouco melhor. Até ao momento limitei-me a um álbum, mas que álbum. A música é já um pouco mais complexa, mas bastante dentro dos meus limites. Alternando entre momentos de completa acalmia e grunhidos bem metidos, foi das descobertas do ano, para mim.




Haken. Mais uma daquelas coincidências. Lembro-me de ter ouvido este nome numa conversa alheia num autocarro a caminho de casa, vindo do concerto de Maybeshewill, em Tilburg. Fiquei com esse nome registado até que, anos depois, finalmente ouvi melhor um dos seus álbuns. É um rock progressivo mais pesado que tem algo de libertador, um pouco à imagem do que faz Devin Townsend, mas mais "proggy".




Iamthemorning. Isto é absolutamente mágico. Uma fórmula aparentemente simples, mas este duo Russo (neste caso acompanhado por cordas) consegue criar ambientes fantásticos. Clássica, jazz, prog, parece que de alguma forma tudo está relacionado e encaixa na perfeição.




Anathema. É preciso estar com o estado de espírito certo. Mas quando ele lá está, este rock progressivo a puxar para a lamechice encaixa que nem uma luva. Todo o álbum é lamechas, mas muito poucos conseguem emprestar esta dignidade a música lamechas. E o que eu preciso é de dignidade quando estou com auscultadores nos ouvidos e lágrimas nos olhos.




Mogwai. O que dizer destes senhores? Mais um álbum, mais um álbum em grande. Uma banda que segui e seguirei, para sempre.




Steven Wilson. Já um velho conhecido dos tempos de Porcupine Tree e da sua já sólida carreira em nome próprio. O novo álbum para mim não é tão bom como os dois anteriores, mas ainda assim tem algumas canções fortíssimas. Menos para os lados progressivos que tanto aprecio, mas ainda assim continuarei curioso com o que virá a seguir.





Rão Kyao. Nome que faz parte do imaginário Português das últimas décadas, sem que eu alguma vez tenha tentado ouvir devidamente. Encontrei o seu novo álbum e decidi experimentar. Acabou por servir de banda sonora no prelúdio de um dos mais belos momentos que vivi até agora. E aqueles sons etéreos resultam maravilhosamente enquanto se vagueia pela paisagem do Gerês.





Closterkeller. Inevitavelmente tento pôr os ouvidos em bandas Polacas que me possam interessar. O meu maior interesse nesta é que, para além de musicalmente aceitável, cantam em Polaco, o que pode vir a ser uma ajuda na aprendizagem desta língua. Esta banda já tem alguma história e, sendo este um dos álbuns recentes, possivelmente já se desviou consideravelmente do rumo inicial, mas isso torna a descoberta mais interessante.




Lunatic Soul. O projecto paralelo do líder dos meus bem conhecidos Riverside, também Polacos. Já no quinto álbum, foi cada vez mais perdendo as influências do rock progressivo, sem as perder totalmente, para ganhar mais elementos electrónicos. Embora prefira o lado mais progressivo e pesado de Riverside, este também não me desagrada.




Furia. Mais uma banda Polaca, desta feita com um álbum pesado, lento e cheio de riffs que me enchem as medidas. As letras são em Polaco e geralmente curtas, dada a natureza da música. Mas isso talvez seja até uma ajuda para quem está longe de dominar a língua. 




Moonspell. 1755, a obra prima. Sempre adorei o Irreligious, dos primórdios desta banda, mas este álbum muito provavelmente ficará também lá em cima. Desta vez todo em Português, porque tinha que ser, já que é um álbum conceptual acerca de um acontecimento trágico da história de Portugal. Brutal e certeiro. Eles não precisavam de provar nada, mas provaram na mesma.




Epica. No seguimento do concerto a que assisti, fui ouvindo um pouco mais desta banda, e devo dizer que cada vez estou a gostar mais daquele contraste bela / monstro, para além de tudo o resto que enche a sua música. Uma banda para continuar a seguir.





Cellar Darling. Coloco aqui este nome por uma música apenas. A generalidade do álbum que lançaram este ano aposta demais no lado "catchy" do metal com voz feminina, para o meu gosto. Mas no meio de tantas músicas "iguais" aparece esta que me apanha completamente desprevenido. Se eles conseguem fazer isto, eu só espero que não tenha sido um acidente. Esta música é brilhante como poucas que tenha ouvido este ano.




Apocalypse Orchestra. Por vezes estou em busca de um determinado som, sem saber ao certo o que quero, mas vou navegando por essa rede e ouvindo o que encontro. Muitas vezes aparece algo de que gosto e fico-me por aí. Mas muito de vez em quando aparece precisamente aquilo que eu queria ou precisava. É o caso desta banda Sueca. Por alguma razão naquele dia estava a precisar de uma banda que misturasse folk e metal, mas que fosse um pouco para o lado doom e pagão da coisa. Claro que só me apercebi disso quando ouvi esta música. E recomendo o álbum inteiro.




Eric Buchholz. Este nome nunca me disse nada, mas encontrei a versão orquestral da banda sonora de Zelda - Ocarina of Time, com arranjos e direcção deste senhor. Isto transporta-me para um passado já não muito recente, em que a Nintendo 64 era rainha e tanto eu como o meu irmão (mais ele - ele é que acaba sempre os jogos, eu fico a meio) passávamos horas com este jogo mágico. Só por isso vale a pena ouvir este álbum de uma ponta à outra.




Sinistro. Embora o lançamento do álbum seja em 2018 (no dia em que escrevo estas linhas), foi já ao longo dos últimos meses que fui ouvindo as primeiras músicas. Ainda tenho dúvidas que consiga estar ao nível do álbum anterior, mas não lhe deve ficar muito atrás. Continuam a ter músicas que me trazem lágrimas aos olhos com bastante facilidade, sem sequer se terem que aproximar de qualquer lamechice. É pura emoção.






Boas audições!