quinta-feira, 15 de junho de 2017

Tetra, ou umas quantas considerações sobre o pobre futebol Português

Saudações, caros leitores!

Estamos numa era em que a informação viaja lentamente, mas ainda assim, e tendo em conta que só passou um mês, talvez já tenham ouvido dizer que o Benfica se sagrou campeão nacional pela quarta vez consecutiva. Nunca visto. Bem sei que tanto Porto como Sporting já o tinham feito, mas numa época não tão distante do nosso Vietname, não posso deixar de estranhar a sensação. Isto para além das duas outras competições vencidas (Taça e Supertaça).

Rui Vitória conseguiu mais uma vez provar que ser o mestre da táctica não é tudo e pudemos também verificar que desenhar diagramas complexos não é receita suficiente para lá chegar. Tivessem todos a sua atitude e o nosso futebol estaria bem melhor.

O plantel era bom, o espírito de equipa também, e é certo que vários destes jogadores terão que aguentar-se em climas mais frescos (mas com carteiras mais recheadas) na próxima época.


Isto tudo é muito bonito, mas a razão que me levou a escrever estas linhas com algumas semanas de atraso está relacionada com impressões negativas da minha parte, que esperei para ver se desapareciam, bem como a perda de boa parte da pouca pachorra que já tinha para circos, palhaçadas, esquemas e negociatas (se procurarem "futebol Português" em qualquer dicionário, estas palavras certamente aparecerão).

Desde logo as arbitragens. Sou talvez um mau adepto. Pela simples razão de não fechar os olhos quando o meu clube é beneficiado. É verdade que vi isto acontecer algumas vezes esta época. Quando isso acontece sinto-me mal. Já nem consigo festejar o golo ou a vitória da mesma forma.

Mas não é novidade nenhuma, e muito menos exclusivo do Benfica. Os grandes são beneficiados em todas as épocas (o que não quer dizer que não sejam esporadicamente prejudicados). Como lamentavelmente não vejo os jogos dos outros, não tenho a contabilidade em dia sobre quem foi mais ou menos beneficiado. O que me parece certo é que os pequenos são quem se pode queixar mais. Mas ainda assim vislumbrei, por exemplo, o Rio Ave ser beneficiado contra outro dos "não-grandes". Não há exclusividades para ninguém neste campo.

Para mim é óbvio. Só se evita parte disto quando as tecnologias que já temos disponíveis há anos forem de facto aplicadas no futebol. Depois há sempre espaço para interpretações, e enquanto as regras tiverem ambiguidades ou forem flexíveis o suficiente, nunca deixaremos de ter polémicas. Quanto a essa parte, só o tamanho dos tomates dos árbitros pode ditar o fim da inclinação dos campos para os grandes.

As vozes indignadas sobre as arbitragens ao longo da época levantam-se agora para denunciar esquemas de corrupção. Pois muito bem, se existem que sejam investigados e eventualmente provados e condenados. A fazer as coisas, que seja em condições, não como há uns anos atrás, em que me quer parecer que muita fruta ficou por ser punida. Mas quem sou eu para julgar? Não sou dono da verdade, ao contrário de muita gente no nosso país.

Mais reais e preocupantes, para mim, são os esquemas de contratações em que vejo o meu clube contratar camiões de jogadores todas as épocas apenas para serem emprestados logo a seguir. Não sei o que se passa na realidade ou quais as razões para estes esquemas. É impossível que o treinador queira mesmo todos aqueles jogadores, para imediatamente a seguir mudar de ideias. Serão contratações para a equipa B? Há perspectivas de serem reforços da equipa principal algum dia? Terá a ver com os empresários? São muitas as questões sobre as quais não me apetece de momento debruçar porque me doem as costas.

O que acontece efectivamente com estes esquemas é uma constante instabilidade nos clubes pequenos, o que contribui de alguma forma para o empobrecimento, em geral, do nosso campeonato. As equipas pequenas vão perdendo os melhores jogadores para os grandes (ou para que os grandes os emprestem) e vão ao mercado novamente, onde desencantam mais um camião de jogadores medíocres ou, quiçá, uma pérola que certamente estará a caminho de um grande no ano seguinte.

Isto não é de agora, e é só mais uma das razões de termos praticamente sempre os mesmos a disputarem o título. Mas o que me preocupa nisto tudo é uma pequenez que eu não gosto que esteja associada ao meu clube. Mas como é que o Benfica pode querer fazer alguma coisa na Europa se internamente joga contra pinos, barris, postes, e afins?

Quando finalmente defrontamos uma equipa de jeito jogamos como pequeno, porque não dá para mais. Na verdade dá para mais, mas não sabemos mais no momento da verdade. Julgo que deveríamos ter feito mais frente ao Dortmund (só não apanhámos 4 nos dois jogos porque não calhou), mas não soubemos.

O que me parece que todos estes esquemas pretendem fazer é dinheiro. O Benfica é uma máquina de fazer dinheiro, neste momento. E eu não me poderia estar a borrifar mais para esse facto. Preferia ter o Ederson e o Lindelöf mais uma época ou duas (e outros, mas esses já lá vão...).

O que me interessa realmente é o futebol. E por causa da mediocridade do nosso campeonato, tenho passado os últimos anos a ver do pior futebol que há, porque ver uma equipa a jogar contra pinos amontoados à entrada da grande-área não é tão interessante como ver, por exemplo, um qualquer jogo do campeonato Inglês.

O que eu quero é que o campeonato Português seja nivelado por cima e se torne interessante para os estrangeiros. O que eu quero é que o campeonato Português seja transmitido aqui na Polónia. Ou acham que, se isso acontecer, os clubes não ganharão dinheiro com isso? O que eu quero é um Benfica de nível Europeu! É que se continuar assim eu temo perder totalmente o interesse e passar a dedicar-me exclusivamente ao ténis e voleibol femininos.

Enfim, sonhos.


Até breve!

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