Ora viva, caríssimos leitores!
Após um muito longo período de reflexão (ler "preguiça") decidi finalmente escrever algo acerca dos acontecimentos futebolísticos do já distante mês de Junho de 2012, dividindo-os em várias partes.
A foto que vêem acima desta linha mostra o aspecto da minha sala de estar, em terras Holandesas, quando me pus a caminho de uma verdadeira aventura que duraria - pensava eu - cerca de duas semanas.
Tudo começou no dia 6 de Junho. Um voo para Cracóvia, como tantos outros que tenho feito nos últimos tempos, seguido da viagem de comboio até ao centro da cidade.
No comboio vivi uma situação algo caricata, para começar bem. O preço do bilhete subira de 10 para 12 PLN umas semanas antes, e era precisamente essa a quantia que tinha na carteira. Acontece que tinham aumentado novamente o preço, desta feita para 19 PLN.
O revisor, que não percebia Inglês, disse que voltaria mais tarde para resolver a situação. O tempo foi passando e o comboio chegou ao destino, sem que o revisor aparecesse. Aliás, estava em amena cavaqueira com os restantes revisores, tendo preferido ignorar-me, e proporcionando-me assim uma viagem grátis. Gente muito simpática.
No dia seguinte chegaram a Cracóvia alguns amigos Portugueses, vindos de Itália, com quem seguiria viagem para Leste. Houve apenas tempo suficiente para tratar de assuntos importantes, nomeadamente um jantar bem Polaco, e depois o autocarro esperava-nos.
O autocarro levar-nos-ia para L'viv, cidade Ucraniana bastante próxima da fronteira e a pouco mais de 300km de Cracóvia. Perto, mas viajámos toda a noite, dado que as estradas não são as mais rápidas. Uma viagem cansativa e com uma espera de quase 2h na fronteira, entre verificações de passaportes (de ambos os lados da fronteira) e verificações de sabe-se lá mais o quê, já que o motorista do autocarro parecia sempre bastante atarefado, caminhando apressadamente para todos os lados com papéis na mão.
No dia 8 às 6h da manhã chegávamos então a L'viv. Foi necessário esperar por um autocarro para o centro da cidade, e logo tivemos contacto com um pouco da realidade Ucraniana. Primeiro, taxistas tentavam com alguma insistência encaminhar-nos para os seus táxis. Logo a seguir, um Ucraniano que nos ouvira falar, logo nos aborda, num Português com sotaque de leste, perguntando se já tínhamos onde ficar. Mas finalmente passou o primeiro autocarro, onde diligentemente validámos os bilhetes nas máquinas manuais que furavam os mesmos. Os próprios bilhetes têm um aspecto vintage.
Fomos então obrigados a passear pela cidade enquanto os cafés não abriam e não nos era ainda possível fazer check-in no hotel ou apartamento.
Foi uma experiência algo estranha, passear pela praça principal da cidade praticamente deserta. Para além de nós, apenas as equipas de limpeza lá se encontravam a dar os últimos retoques para mais um dia cheio de turistas que geralmente têm alguma tendência a deixar um rasto de lixo.
Foi então que, já cansados de vaguear sem rumo, abriram os primeiros cafés. Como não poderia deixar de ser, tomámos o pequeno-almoço num café tipicamente... Austríaco (pelo menos de nome).
Findo o pequeno-almoço, foi necessário mais um compasso de espera. Aproveitei então para levantar dinheiro para pagar o apartamento que alugara online. Já sabia que tinha pago demais, dada a inflação no alojamento para este período, mas essa sensação aumentou ao ver os preços dos transportes públicos (uma viagem de autocarro custava 20 cêntimos de Euro) e ao aperceber-me da dificuldade em levantar a quantia de que precisava. Alguns levantamentos depois, e chegada uma hora adequada, eles foram para o seu hotel e eu segui em busca do dito apartamento.
Uma hora depois estava já a tentar descansar um pouco no apartamento que, não sendo nada de mais, era suficiente. Porém, a entrada do prédio, para além de sombria, tinha um ligeiro problema: não era possível abrir a porta por fora. Sendo assim eu tinha um potencial problema. A porta ou estava sempre um pouco aberta ou impediria a minha entrada.
Ao menos tinha uma vista fabulosa da janela.
Dei então um salto à mercearia existente em frente ao prédio para a compra de bens essenciais. Com uma espécie de Polaquiano que fazia a senhora da loja rir e alguns gestos, de indicador apontado, lá consegui pedir pão, queijo, fiambre, café e umas cervejas locais. Já não passava fome.
Passeando pela cidade nesta altura, a meio do dia, era uma experiência totalmente diferente da primeira. As ruas cheias de turistas, belas Ucranianas e não tão belos Ucranianos e uns olhares curiosos ou ligeiramente desafiadores na nossa direcção, dependendo de onde vinham. Visto que alguns de nós mostravam já as cores nacionais, não era raro um Ucraniano, com os típicos dentes de ouro bem visíveis, vir na nossa direcção e começar a falar Português, contando metade da sua vida, do tempo que passara no nosso país, e perguntando-nos se não conhecíamos um seu grande amigo que vivia algures em Portugal.
Agora conseguia-se ver o impacto desta competição na cidade (e que viria a verificar nas restantes também). Os adeptos começavam a aparecer por todo lado. Alguns Portugueses, muitos Ucranianos mostrando as suas camisolas, e inúmeros Alemães, que já mostravam a sua superioridade numérica em relação a nós.
O impacto menos positivo no aspecto visual da cidade era óbvio e visível bem no centro. A chamada Fanzone. Uma área que ocupava uma avenida inteira, rodeada por vedações cheias de publicidade e cores garridas, no interior da qual se encontravam ecrâs gigantes, barracas comercializando comida, bebida e merchandising, bem como espaços para outras actividades. Esta Fanzone tapava um dos edifícios mais significativos da cidade - o Teatro de Ópera e Ballet - e rodeava o monumento a Taras Shevchenko.
Ainda assim, não era um mau sítio para ver os jogos. Foi lá que vimos os jogos do dia.
A Polónia inaugurava a competição com a Grécia. Polónia forte na primeira parte, fraca na segunda. Empate. Nesta altura já nutro alguma simpatia pela selecção Polaca e, ao contrário da maioria dos Polacos com quem falara antes, tinha algumas expectativas para esta equipa. Fiquei desapontado.
No segundo jogo os Russos fizeram uma demonstração de força, esmagando a República Checa.
Naquela altura achava que a Rússia e a Polónia passariam, embora começasse a desconfiar da Polónia.
E chegava o grande dia. O primeiro jogo da nossa selecção contra a fortíssima Alemanha. Iria certamente apoiar a equipa, mas não tinha grandes esperanças em relação a este jogo e a toda a competição.
Recuperados do dia anterior, depois de um almoço já algo tardio e de provar algum Kvass, era tempo de nos pormos a caminho do estádio, juntamente com o meu novo colega de bancada para este jogo, apoiante de Portugal com nacionalidade Argelina.
E havia um longo caminho a percorrer. Primeiro uma caminhada de 20 minutos até ao local onde os autocarros directos paravam. 10 minutos depois de arrancar, o autocarro deixava-nos relativamente perto do estádio. Relativamente, já que ainda precisávamos de caminhar mais uns 20 minutos até lá chegarmos. Esta caminhada não seria muito problemática, não fosse a típica chuvada da tarde começar na altura em que saíamos do autocarro.
Ao chegar ao estádio verificámos que os scanners na porta onde deveríamos entrar não estavam a funcionar perfeitamente. Os nossos bilhetes não estavam a ser reconhecidos, pelo que tivemos de ir pela porta do lado, onde alguém com um scanner portátil verificava os bilhetes.
Enquanto isso os adeptos Alemães observavam o horizonte.
Uma vez no interior do estádio, pudemos ver o outro jogo do grupo, que decorria nessa altura. A Holanda começava a sua participação de forma negativa, perdendo com a Dinamarca. E eis que, após uma vistosa cerimónia de boas vindas a L'viv, o jogo começa.
Portugal passou a primeira parte a deixar a Alemanha ter a bola, com os Alemães a conseguirem criar algumas situações perigosas. A mais perigosa foi, no entanto, uma bola à trave do Pepe na sequência de um canto. Cantos esses que proporcionavam a oportunidade a alguns adeptos Alemães de se revelarem extremamente civilizados, quando arremessavam objectos ao jogador que o iria marcar.
Na segunda parte o inevitável Gomez acabaria por marcar o golo da praxe. Muito mais Portugal a partir daí, com diversas oportunidades desperdiçadas, tendo pertencido a Varela a mais flagrante.
Perdemos. Normal. A Alemanha foi mais forte, mas este jogo deixou-me mais confiante para os jogos seguintes. Estava efectivamente mais esperançado quanto à qualificação depois deste jogo do que antes. Pensava que a Alemanha nos esmagaria, mas nada disso. Ainda assim os adeptos na nossa bancada brindavam os nossos jogadores e respectivas mães com nomes pouco simpáticos, a cada passe falhado da nossa parte ou jogada mais conseguida da parte dos adversários, pelo que talvez nem todos pensassem como eu.
Aqui está um curto vídeo, filmado pelo meu colega de bancada, onde exponho o meu ponto de vista de forma extremamente sucinta e ponderada.
Após este jogo tínhamos Portugal e Holanda a precisar de vencer. Nós jogaríamos com a surpreendente (mas não para nós) Dinamarca. Acontecia que a Holanda tinha os dois jogos teoricamente mais complicados por fazer, e portanto as coisas não estavam melhores para eles.
Agora teria mais uns dias para explorar L'viv convenientemente até ao próximo jogo, e mais confiança na equipa do que inicialmente, apesar da derrota.
Continuação no próximo post...
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