sábado, 1 de dezembro de 2012

Євро / Euro 2012 (II)

Viva, caríssimos leitores.

Eu sei, é difícil acreditar que já estou de volta, tendo escrito tão recentemente. Mas tenho de continuar a relatar a saga de Junho de 2012 por terras Ucranianas e Polacas.


Era dia 10 de Junho. Dia de Portugal, portanto. O jogo do dia anterior, apesar da derrota, correra melhor do que esperava.

Os meus companheiros de viagem dos dias anteriores estavam já de regresso a terras Italianas, pelo que tinha pela frente mais uns dias para explorar L'viv por minha conta.

Na noite anterior estivera umas horas a ler e visualizar conteúdos desportivos enquanto ingeria alguns géneros alimentícios, pelo que esse dia começou tarde para mim.

Ao longo dos primeiros dias fui-me apercebendo da pouca adequação do vestuário que decidi levar. Estava bem preparado para as chuvadas que efectivamente aconteceram. O problema era o sol abrasador que se mostrava durante a maior parte do tempo. E aí as minhas sapatilhas impermeáveis e t-shirts pretas revelavam-se deveras desconfortáveis.
Sendo assim tive que começar por adquirir uma t-shirt de Portugal e dar mais algum dinheiro à UEFA, que bem precisa.

Até então tinha já feito algumas compras em mercearias à volta do apartamento, o que me deu a oportunidade de elaborar algumas estatísticas. 

Em 100% dessas lojas era atendido por senhoras.
75% dessas senhoras mostravam simpatia, esboçavam um sorriso durante as minhas sucintas tentativas de comunicação em Ucraniano e até tentavam perguntar-me alguma coisa quando dizia que era Português (o que se revelava infrutífero, dada a minha incapacidade para decifrar aquele idioma, quando falado).
Os restantes 25% das senhoras faziam-me lembrar as suas colegas de profissão do outro lado da fronteira, sempre com uma cara de poucos amigos e quase fazendo-me sentir mal por lhes estar a dar o trabalho de me vender alguma coisa.

Uma vez desperto, desloquei-me até ao centro da cidade para ver um jogo que tinha tanto para ser bom como para ser aborrecido. Espanha-Itália. Duas boas selecções, uma que quer sempre ter a bola e que só opta pelo remate quando já não há mesmo mais nenhuma hipótese, e outra que espera que o adversário cometa um erro para ganhar a bola e rapidamente dar um salto até à baliza. Acabou por ser um bom jogo, com várias oportunidades para as duas equipas. O empate acabou por fazer sentido.

Entretanto percebera que o pessoal que passava pela Fanzone não mostrava muitas qualidades defronte de um bilhar de matrecos.





Para ver o outro jogo fui para casa, já que não achei que valia a pena levar com chuva no couro cabeludo por causa desse confronto. Acompanhado de uma cerveja local e comida rápida e pouco saudável, vi os Croatas serem melhores, com um estilo de jogo mais agradável, mas era escusado a Irlanda ter sido um pouco roubada (aqui se calhar já entra a parcialidade natural de quem nutre simpatia pelo país). Vitória justa, de qualquer forma.




No dia seguinte era tempo de ir até à estação ferroviária buscar os bilhetes de comboio para a viagem que teria de fazer para o terceiro jogo.

Obviamente que, poucos minutos depois de ter saído, apareceu a chuva. Foi uma oportunidade de ouro para testar convenientemente o meu casaco super leve mas com alguma suposta resistência à chuva. Sendo assim continuei a pé, com algumas paragens forçadas devido ao momentâneo aumento da pluviosidade.

Chegado à estação, foi muito fácil obter os bilhetes. Em circunstâncias normais seria complicadíssimo, já que normalmente quase ninguém falaria uma língua que eu percebesse e as indicações lá existentes estão em Ucraniano. Mas durante o torneio tudo isto foi resolvido com grupos de voluntários espalhados pela cidade e devidamente identificados. Sendo assim,  apenas precisei de perguntar a um desses voluntários, ser dirigido a um balcão de atendimento, esperar que os bilhetes fossem impressos, e depois perguntar quais os trams que me levariam de volta ao centro. Tudo muito simples.

Mesmo com a presença dos voluntários, faz sempre jeito saber alguma coisa de Ucraniano. Não é que soubesse muito, mas dava um jeito nas palavras mais básicas, o que no caso do tram era útil para pedir o bilhete. Outra das coisas de que me orgulho é ter aprendido a decifrar o alfabeto cirílico, utilizado por lá (não é que seja muito complicado, mas foi algo que me deu gosto aprender). A partir daí contraí o síndrome-de-quem-aprende-um-alfabeto-diferente-e-sente-a-necessidade-de-o-provar, ou seja, cada vez que vejo alguma coisa escrita nesse alfabeto (já não me refiro apenas ao tempo que passei na Ucrânia) tenho de parar e tentar ler e, caso esteja acompanhado, mostrar orgulhosamente que consigo decifrar e pronunciar aquele conjunto de caracteres estranhos.

Chegada a hora do futebol, e depois de ter esperado em casa que a chuva abrandasse, desloquei-me ao único pub Irlandês que encontrei perto do centro e fiquei por lá a ver o confronto entre a França e a Inglaterra. Um belo jogo, com ambas as equipas a criar oportunidades, das quais resultou um golo para cada lado.

E chegava o grande momento para o país. A estreia no torneio da Ucrânia, frente a uma equipa com as mesmas cores - a Suécia. Motivadíssima, a selecção da casa sofreu primeiro, mas o maior número de oportunidades criadas resultou em dois golos da estrela da casa, Шевценко (e esta, hein?). A cidade e o país estavam em festa.


O dia seguinte foi dedicado a um longo passeio à volta do centro cidade, quando a chuva o permitiu.

L'viv é uma cidade bastante bonita, com muita história e pontos de interesse. Como já conheço algumas cidades Polacas, era óbvia a semelhança destas, na aparência (por ser o mais visível), com L'viv, já que aquela região foi Polaca em diversas fases da sua história.

Parques, praças, igrejas, catedrais e diversos outros monumentos (em sentido literal e figurado) passaram-me pelos olhos durante o passeio por esta cidade. Proliferam por lá veículos já com uma certa idade, dificilmente vistos nos países mais a Oeste, entre os quais muitos carros com um ar soviético.





















De volta ao apartamento, nada como lavar alguma roupa como preparação para mais uma tarde/noite de futebol.

Os Checos, muito fortes no início do jogo, arrumaram logo com os Gregos, apontando dois golos nos primeiros minutos. Apenas Petr Čech fez questão de ajudar um pouco os adversários, proporcionando-lhes um golo. Mas não foi suficiente.

Cumprido o calendário menos interessante, o grande jogo do dia viria a seguir. O jogo que era mais do que um jogo. Polónia-Rússia. Todos os Polacos esperavam por este momento, incluindo aqueles que não se interessam por futebol. A história conflituosa entre estes dois países criava uma carga emocional pesadíssima, transportando tensão política para um jogo de futebol.

Alguns confrontos tiveram lugar a caminho do estádio, antes do jogo, como já seria de esperar.

Os Polacos estavam motivadíssimos e tentaram o golo por várias vezes, mas estavam a pôr-se a jeito. Os Russos, mesmo num período menos bom, acabaram por marcar de bola parada. O empate foi reposto num grande golo de Błaszczykowski (quase tão grande como o seu nome). Nesta altura a Polónia arriscava tudo, e só não sofreu outro golo porque não calhou. A partir daqui as duas equipas tentavam o golo, sem no entanto arriscar muito. Mas a certa altura, perto do final, parecia mesmo que estavam apenas a deixar passar o tempo. Talvez estivessem a tentar evitar mais problemas fora do estádio. Foi o resultado menos conflituoso que se arranjou.


Chegava então o dia de novo jogo de Portugal.

Com boa disposição e esperança de um resultado positivo, comecei o dia com a segunda parte do passeio iniciado no dia anterior. Desta vez teria de subir um pouco até ao ponto mais alto da cidade, onde se situava um histórico castelo.

Pelo caminho ia registando algumas reacções à minha t-shirt Portuguesa. Era também, nesta altura, fácil identificar outros adeptos lusos que por lá andassem. Encontrei dois Portugueses que faziam geocaching na colina que, tal como eu, tinham bilhetes a mais para o jogo. Esse problema era uma constante, não só para mim. Na altura em que os comprei julguei que não seria um problema arranjar alguém com quem ir, mas não foi bem assim. Surpreendeu-me um pouco a quantidade de pessoas com o mesmo problema, mas compreende-se.

















Depois de observar a cidade lá de cima durante uns segundos, até ter sido interrompido pela chuva, a qual causou a minha descida prematura, decidi ir almoçar a uma micro-cervejaria local que inclui um restaurante. Chama-se Kumpel e, para além da cerveja que é feita no meio do restaurante, servem o que julgo ser comida tradicional Ucraniana (talvez mais da região histórica da Galícia). Tornei-me fã, e aproveitaria todas as oportunidades para lá voltar. Naquela ocasião escolhi umas orelhas de porco fritas. Muito bom. E a cerveja era melhor do que qualquer outra que provara até ao momento.






Estava então a postos para o jogo, faltando apenas passar pelo apartamento para os derradeiros preparativos.




E segui caminho, passando por acaso pelo hotel onde estava instalada a comitiva Portuguesa, sem no entanto ter esperado por ninguém, tendo em conta a minha grande vontade em ir logo para o estádio.




Entretanto já vira um enorme grupo de adeptos Dinamarqueses que espelhava o nível de organização que presenciaria mais tarde no estádio. Algumas centenas de adeptos, todos vestidos a rigor, seguiam numa fila organizadíssima para o local de onde sairiam para o estádio, enquanto entoavam cânticos de apoio à sua selecção.

Após as caminhadas do costume, intercaladas pela viagem de autocarro, chegava ao estádio, sob uma intensa ventania. À volta do estádio era possível ver as consequências das chuvadas frequentes.






Durante o jogo confirmava aquilo que pensava acerca dos adeptos. Em todos os jogos da fase de grupos isto acontecia, devido às semelhanças naturais entre os três países vizinhos do Norte da Europa. Os Dinamarqueses estavam em maior número e muito organizados, constituindo uma grande mancha vermelha na bancada e abafando os Portugueses com os seus cânticos em uníssono. Nós lá tentávamos alguma coisa, mas como bons Portugueses estávamos poucos, espalhados e desorganizados.

O jogo foi emotivo e começou bem para nós, com dois golos na primeira parte, de Pepe e Postiga. Pepe, para além de marcar, era quem safava muitas jogadas lá atrás. Esteve enorme durante o torneio.
Mas para dar a esperada emotividade ao jogo, deixámos Bendtner empatar o jogo, entre diversos falhanços do nosso capitão, de quem se esperava muito mais.
Coentrão estava em grande. Mas quando já se temia que aquele fosse o resultado final, eis que Varela, fazendo esquecer o falhanço do jogo anterior, nos dava a importantíssima vitória.

















No outro jogo, a Holanda perdia com a Alemanha e estava eliminada. A qualificação decidir-se-ia na última jornada, com Portugal a não depender de terceiros, ao contrário da Dinamarca.


Jornada positiva, claro, e ainda bem que assim foi. Esperava-me uma viagem de um milhar de quilómetros até ao outro lado da Ucrânia, e com este resultado a esperança aumentara para uma qualificação que no início era no mínimo improvável.



Até breve! Não percam o próximo episódio...

0 observação(ões) de carácter irónico ou mordaz: