quinta-feira, 30 de maio de 2013

Євро / Euro 2012 (III)

Ora viva, caríssimos leitores!

E eis que decido regressar à escrita, e bem a tempo, para mais um pouco de paleio acerca do muito recente Euro 2012.


Talvez já não haja, por esta altura, ninguém interessado no que estou para escrever sobre este assunto, mas tenho algumas dificuldades em escrever sobre outras coisas sabendo que tenho isto atrasado quase um ano. Agora tenho de encarar isto como um documento histórico. :)


Bem, continuando então.

Após a primeira vitória Portuguesa na competição, chegava o último dia em L'viv, cidade que me acolhera nos seis dias anteriores.

A fase seguinte da viagem teria lugar nessa noite, pelo que fui obrigado a fazer horas (e também alguns minutos de vez em quando). Depois de ter desobstruído o apartamento, deixei uma mochila na Fanzone e fui dar mais umas voltas pela cidade, parando mais uma vez no Kumpel para um belo almoço acompanhado de boa cerveja.

Aí pude registar em imagem uma das inovações (pelo menos relativamente ao que estou habituado) mais simples e úteis que já vi num restaurante.
Consiste simplesmente num botão que se pressiona para chamar o/a empregado/a de mesa. Simples mas eficaz. Tão simples e tão eficaz que me deixa perplexo por nunca ter encontrado isto antes em países bem mais desenvolvidos.





De seguida fiz os possíveis por comprar um CD de uma banda que na noite anterior vira no programa de televisão dedicado ao campeonato. Desloquei-me ao grande centro comercial da cidade (possivelmente pensado para as idas de turistas aos jogos, já que se localiza muito perto do estádio).

Encontrei uma loja de música onde ninguém conhecia a banda de que estava a falar, por isso tive de desistir. No centro da cidade as únicas lojas que vendem CDs não vendem os legais. Ou são cópias dos CDs ou CDs com MP3, a preços muito apelativos, claro. Este hábito deve estar bastante enraizado, já que ninguém parece importar-se com a ilegalidade destes negócios e ninguém os tenta esconder, já que os preços estão bem publicitados nestas lojas.

No resto do dia houve tempo para ver um pouco do primeiro jogo do dia (empate entre Itália e Croácia) enquanto ingeria uma pizza (uma fatia de cada vez) num dos restaurantes no centro.






Era tempo, então, de me encaminhar para a estação de comboio. Pelo caminho, uma confusão com a condutora do tram em relação a bilhetes permitiu-me travar conhecimento com um casal de Chineses que seguiria no mesmo comboio que eu, para Kyiv (escrevo assim porque Kiev é transcrito de acordo com a pronúncia Russa, e Kyiv com a Ucraniana). Aí iriam assistir ao jogo entre Inglaterra e Suécia. Mas o mais interessante era o facto de serem adeptos da selecção Portuguesa desde o Euro 2000. Aproveitavam o facto de residirem na Europa (no Reino Unido) para se deslocarem à Ucrânia para seguir a sua selecção favorita.

Seguiu-se então a minha primeira experiência num comboio nocturno Ucraniano. Os bilhetes tinham sido comprados com antecedência, via internet  (um processo algo difícil). Optara por um compartimento de 2ª classe, com quatro camas. Os de 1ª classe tinham dois lugares, mas eram bem mais caros, e os de 3ª classe tinham seis lugares, eram bem baratos, mas a única divisão entre compartimentos era uma cortina.







De início tinha o compartimento só para mim, mas as diversas paragens durante a noite trouxeram mais passageiros. Por volta da 1h da manhã um casal de meia idade veio preencher as duas camas que sobravam na altura. Observando os restantes passageiros conseguia perceber, pelas acções (a forma como subiam para a cama superior, por exemplo), que aquela devia ser a centésima vez que faziam aquilo. Eu tinha que olhar durante uns minutos para tudo à minha volta para pensar como deveria fazer.

Inicialmente a impressão que tinha era de que não conseguiria dormir facilmente. O movimento e barulho constantes, as paragens, a cama menos que perfeita. Mas era, obviamente, uma questão de hábito. Ao fim de umas horas o movimento do comboio quase que embalava, e tudo o resto passou a ser apenas normal.


Pela manhã, bem cedo, a funcionária responsável pela carruagem servia chá ou café a quem pretendesse, para ajudar a acordar.
A comunicação com os meus companheiros de compartimento era no mínimo difícil, pois só um jovem Ucraniano (que se deslocava a Kyiv para ver o jogo da Inglaterra) sabia algumas palavras em Inglês. Só assim fiquei a saber algo sobre a goleada da Espanha à Irlanda.

De resto fiquei-me por um "bom dia" e pouco mais, tentando usar os ensinamentos do meu livro de bolso com as bases do idioma Ucraniano. Essas bases revelar-se-iam pouco úteis na capital do país, já que naquela zona (mais notório na metade Oriental do país) a língua mais utilizada é o Russo.

Já em busca do hostel onde deveria pernoitar, pude tomar conhecimento com as linhas de metro da capital. Era uma melhoria significativa no transporte relativamente a L'viv, mas também uma necessidade, tendo em conta a diferença de tamanho entre as duas cidades.

O hostel ficava num canto de uma praça, bem escondido, mas no prolongamento de um edifício com alguma importância, suponho, sempre com polícias de sentinela à porta.
Um alojamento simpático. Simples mas confortável, onde se encontra sempre viajantes de diferentes origens. Neste caso os Suecos dominavam, já que a sua selecção lá jogava nesse dia.

Parti então para uma caminhada que passaria por vários pontos importantes da cidade, à semelhança do que fizera em L'viv. Neste caso as distâncias eram um pouco maiores, o que me fez parar ao fim de umas horas. Tive, ainda assim, oportunidade de admirar vários locais interessantes, e ainda a já típica Fanzone bem no meio da praça principal e eventos menos publicitados, como manifestações contra a situação de Yulia Tymoshenko (situação essa que chegou a causar alguns boicotes por parte de líderes Europeus que se deveriam deslocar à Ucrânia para aquela competição).






































Para descansar os pés e encher o estômago, encontrei um restaurante que viria a repetir, com comida tradicional da Crimeia, ao qual se seguiria um bem necessário duche no hostel e algum tempo a não fazer nada.

Mais para o fim da tarde chegava então a hora de mais futebol, com mais um jogo da equipa da casa, em Donestk, contra a França. A chuva torrencial, que também ameaçava Kyiv, adiou o jogo por algum tempo e fez-me pensar que o duche se calhar não teria sido assim tão necessário. Acabei por ir jantar mais cedo para tentar escapar à iminente molha, e fui então servido por umas miúdas engraçadas vestidas de forma tradicional. Um restaurante para turistas, portanto, mas que me deixou satisfeito e seco.

Depois vagueei um pouco pela cidade em busca de um bom sítio para ver o futebol. Acabei por encontrar um sítio com o melhor de dois mundos. Pude assim assistir à derrota dos Ucranianos e à vitória dos Ingleses com cervejas Belgas a acompanhar.


No dia seguinte fui fazer um pouco mais de turismo. Dois dos hóspedes do hostel (Iranianos a residir na Suécia, que lá tinham ido por causa do jogo) planeavam ir visitar um dos locais mais importantes da igreja ortodoxa da Europa de Leste, Kyiv Pechersk Lavra, e decidi ir também.

É um recinto de grandes dimensões, com vários pontos de interesse entre igrejas, mosteiros e museus. Inclui também um sistema de cavernas ou túneis que no passado continham mesmo um mosteiro subterrâneo, e que é um dos pontos obrigatórios para os peregrinos. Alguns dos edifícios estavam a sofrer remodelações, pelo que não foi possível ver alguns deles.
















Houve ainda tempo para passar por uma zona com vários museus e memoriais de guerras, com uma gigantesca estátua metálica, herança dos tempos soviéticos, a chamar a si quase toda a atenção.





















De volta ao centro, e a caminho de mais um almoço, encontro por acaso um colega de curso que andava com uns amigos a seguir a selecção Portuguesa também. No entanto, o cansaço fê-los perder a vontade de seguir para o terceiro jogo e decidiram ficar pela capital.

Com o estômago aconchegado, era tempo de continuar a viagem. Mais uma descida para uma das belas estações de metro da cidade e após a curta viagem esperava-me um comboio nocturno que seguiria bem para Leste, em direcção à segunda maior cidade do país, Kharkiv.




Desta vez o compartimento estava cheio desde início, e mais uma vez os meus companheiros de ocasião não tinham grande apetência para o Inglês. Mas faziam um esforço. Não me posso queixar, já que para além desse esforço também fizeram questão de partilhar as suas cervejas. Nestes comboios o consumo de álcool é proibido, mas muita gente consome na mesma, muitas vezes disfarçando bebidas alcoólicas em garrafas menos suspeitas. O ambiente no comboio foi sempre agradável, com a barreira linguística a ser menos incómoda do que imaginara.


Dormir no comboio já não me incomodou desta vez. Incomodou-me foi ter de acordar bem cedo, pois a chegada estava marcada para as 6h da manhã. Houve assim muito pouco tempo para o tradicional chá.

Já em Kharkiv, encontrei mais uma vez os adeptos Chineses, que também iriam ao jogo. Depois de trocados os contactos, fui em busca do hotel, que me parecera um pouco obscuro quando o marquei, mas acabou por não ser assim tão mau.

Esta suspeita surgiu pelo facto de ser praticamente o único hotel na cidade com quartos disponíveis e por ser muito difícil encontrar informação fora dos sites de marcação hotéis. Imagino que fosse muito recente, a aproveitar a enchente, e por isso não havia qualquer comentário de clientes ainda.

Tudo isto por culpa dos Holandeses, claro. Como a Holanda fazia os três jogos naquela cidade, os seus adeptos alugaram tudo o que era alojamento na cidade durante as duas semanas inteiras, deixando muito pouco para quem precisava de se deslocar lá para uma ou duas noites. O que estava disponível era a preços absurdos, de tão caros. Ainda assim preferi ir para um hotel, pois uma noite mal passada entre duas viagens complicadas de comboio era o que eu queria evitar.

Como era cedo demais, tive que fazer horas até poder ir para o quarto. Foi tempo suficiente para me meter no metro, ir até ao centro e ver mais ou menos tudo o que cidade tinha para mostrar. E não me impressionou.

Comecei um pouco fora do centro, passando por uma feira, mas naquela zona não havia nada de muito interessante para ver. O que saltava por vezes à vista era o enorme contraste de riqueza dos habitantes, evidente nos parques de estacionamento, por exemplo.











À volta do centro, alguns edifícios de relevo, muitos com aspecto soviético, uma estátua de Lenine no fundo da praça principal, que naquela altura estava ocupada pela Fanzone, e pouco mais ali à volta. Quando por lá passei decorria uma espécie de protesto, onde se vislumbravam bandeiras comunistas.
















Só quando voltei ao hotel fiquei a saber que as minhas apostas relativas ao apuramento do grupo A estavam completamente erradas. Na noite anterior a Polónia perdera com os Checos e a Rússia fizera o mesmo frente aos Gregos. Tudo ao contrário.

Após um almoço aleatório no centro encontrei um grupo de Portugueses com quem já me cruzara em L'viv, e senti na pele o que é ser o centro das atenções, já que eles estavam vestidos de forma algo exuberante, o que atraía as objectivas das redondezas com facilidade.





Chegada a hora esperada, era tempo de ir para o estádio para o grande jogo.

O nervoso miudinho já estava bem presente, o ambiente começava a aquecer, já discutia impressões e prognósticos com os vizinhos de bancada, dois Russos e um Georgiano. Os Russos, sendo adeptos do Zenith, conheciam bem o Bruno Alves e o Danny. Não lhes quis dizer o que acho do Bruno Alves, mas se eles o conheciam bem deviam ter uma ideia.











Os Holandeses, pressionados pelas duas derrotas, viam-se obrigados a vencer e, sendo assim, fizeram o que normalmente fazem: tudo ao ataque.

Apenas com de Jong como médio mais defensivo (ou menos atacante, dependendo do ponto de vista), apresentaram-se com um ataque que impunha respeito: van der Vaart, Sneijder, Robben, van Persie e Huntelaar. Isto tinha que dar golos. Mas para os dois lados, soubéssemos nós aproveitar.

Foi isso mesmo que aconteceu. Um início a todo o gás deu-lhes um golo - um grande golo - bem cedo, por van der Vaart, a desfeitear Rui Patrício com um remate de pé esquerdo de fora da área a entrar perto do poste direito da nossa baliza.

Depois foi ver Portugal desperdiçar oportunidades umas atrás das outras (ou umas à frente das outras, dependendo do ponto de vista). Até que Ronaldo decidiu finalmente aparecer. Marcou perto da meia hora de jogo, a passe de João Pereira, e começou a ser um verdadeiro perigo para Stekelenburg (há nomes que me parece uma pena não serem escritos). Já antes tinha enviado a bola ao poste direito de Stekelenburg (desculpem, mas mais uma vez não resisti) e protagonizado algumas oportunidades de golo.

A segunda parte começou como terminara a primeira. Portugal a desperdiçar oportunidades de golo flagrantes e a Holanda a criar perigo esporadicamente, mas com menos exuberância. Postiga ainda marcou, mas em fora-de-jogo, pouco antes de dar lugar a Nélson Oliveira.

E finalmente marcou, de novo, Ronaldo, após um contra-ataque rapidíssimo em que é assistido do flanco oposto (direito) por Nani. Ronaldo foi demasiado rápido neste golo. Para além de deixar van der Wiel para trás e de, uns instantes depois, o sentar, ainda passa largos segundos a festejar o golo sozinho antes que os companheiros lá cheguem para celebrar também.

Os postes continuaram a ser violentados. Desta vez o remate de van der Vaart é feito com o pé direito e sai ao poste esquerdo da baliza de Rui Patrício. Ronaldo não lhe fica atrás e envia um potente remate ao poste esquerdo da baliza Holandesa que, como sabem, era defendida por Stekelenburg (é preciso dizer alguma coisa?).

Na Holanda ainda entrou o Affelay para o lugar do lateral esquerdo Willems, mas já estavam a exagerar. No fundo é isso que os Holandeses fazem - pôr sempre mais avançados. E a defesa não é o que de melhor tinham para mostrar, de qualquer forma.

Foi um grande jogo de Portugal. Ronaldo em grande, finalmente a aparecer com tudo, e uma exibição em bom plano da equipa em geral.

Efectivamente esta não era a Holanda que se esperava para este torneio e o ambiente dentro do grupo não estava certamente no seu melhor. Faltou equipa, as coisas não correram bem, e o Ronaldo não ajudou, ao ter aparecido neste jogo.

Depois desta derrota, os Holandeses ganharam a possibilidade de voltar a casa mais cedo, com a humilhante soma de zero pontos. Era o "grupo da morte", mas eles eram uma das razões para essa alcunha. A principal razão era, no entanto, a Alemanha, que o provara ao vencer a Dinamarca no outro jogo desta última jornada do grupo.








Os inúmeros adeptos laranja voltavam então para casa, ordeiramente. Por certo mais cedo do que esperavam.





Eu, por outro lado, tinha um bom problema. Tinha bilhetes até onde Portugal fosse, mas não estava propriamente confiante na nossa passagem inicialmente. Sendo assim, tinha tudo por tratar relativamente a férias, estadia ou viagens para o que aí vinha.

Mas isso seria tratado noutra altura. Naquele momento estava pouco preocupado com isso.


De volta ao centro, havia todo o tempo do mundo. Deu para cear até bem tarde com os novos amigos Chineses e para as despedidas, já que eles voltariam para o Reino Unido no dia seguinte.

Ainda tirámos umas fotos juntos após o jogo, mas infelizmente não tomei a precaução de também tirar fotos com a minha máquina fotográfica. Na viagem de regresso eles perderam a sua máquina no aeroporto e assim o registo fica apenas na nossa memória (e no cartão de memória que alguém não devolveu).

De volta ao hotel, precisava de descanso. Teria um longo dia e noite pela frente.


Até já!

1 observação(ões) de carácter irónico ou mordaz:

Ana Silva disse...

Finalmente de regresso à escrita, já não era sem tempo. Foi grande a preguiça.........