quarta-feira, 21 de outubro de 2020

Importantíssimo assunto

Viva, caríssimos.


Como bem sabem, apenas escrevo neste espaço sobre os assuntos mais relevantes para todos nós.

Certamente os estimados leitores se questionam neste preciso momento acerca do assunto por mim criteriosamente seleccionado para este texto. A pandemia? A crise económica que a acompanha? O clima de tensão que se vive no país meu vizinho, a Bielorrúsia? O fim do mundo que se aproxima a passos largos?

Não. Na verdade venho escrever sobre algo muito mais crítico para o bem-estar de todos. Futebol, pois claro.


Começo então com o Benfica, o que muito há-de surpreender os meus leitores.

Depois duma época memorável, com Bruno Lage elevando-se ao Olímpo dos timoneiros Benfiquistas nos poucos meses da segunda volta do campeonato, eis que o mesmo Bruno Lage desce aos infernos nos poucos meses da segunda volta do campeonato seguinte, conseguindo até transportar-nos no tempo até aos deprimentes anos do nosso Vietname.

Como já deve ter sido comentado por inúmeras pessoas com opiniões válidas por essa internet fora, vou eu também tecer as minhas considerações relativamente a esse assunto, quer queiram, quer não.

A verdade possivelmente está algures no meio-termo, como é normal nestes casos. Como já cheguei a dizer sobre Rui Vitória, aquando do tri-campeonato, não me parece que Bruno Lage possa ser tão mau treinador como este final de época sugere, assim como possivelmente não será tão genial como o final da época anterior deu a entender. Certamente tem algo de bom e algo de mau, mas também acredito que irá melhorar. Como dizia o outro, um Ferrari não é para todos, e trocar uma bicicleta com rodinhas por um super-carro até correu bem inicialmente, mas só até aparecer uma curva mais apertada.

O milagre da época anterior deveu muito às novas ideias trazidas por Bruno Lage, mas talvez essas mesmas ideias tenham resultado pior um ano depois por serem menos novas, por ele não ter sido capaz de se reinventar para dar a volta por cima quando as coisas começaram a correr mal, por o nosso plantel não ser realmente grande espingarda, apesar de o ter parecido anteriormente (e tendo ainda por cima perdido alguns jogadores influentes sem serem substituídos adequadamente), por falta de atitude da equipa, ou quiçá por actos de bruxaria. Provavelmente foi antes uma combinação de todas estas razões, e mais algumas.

Pois bem, seja como for, o resultado foi desastroso e trouxe à memória o pico da nossa caminhada no deserto que foi o final da década de 1990 e o início da década seguinte. Pessoalmente prefiro não recordar essas épocas, excepto para efeitos humorísticos.

E eis que o presidente decide contradizer-se, esquecer tudo o que disse num passado muito recente, e desatar a investir desenfreadamente para construir uma equipa ganhadora. (Na verdade o presidente contradizer-se é algo que já faz parte, portanto não posso alegar surpresa.)

Jorge Jesus regressou ao Benfica, depois duma época brilhante ao serviço do Flamengo, ao que se seguiu uma série impressionante de boas contratações, com o internacional Belga Vertonghen, o internacional Brasileiro Everton "Cebolinha" e o internacional Alemão Waldschmidt à cabeça. Infelizmente esta aposta assumia uma qualificação para a Liga dos Campeões que, como se sabe, não se verificou, o que levou à venda do nosso mais valioso activo, Rúben Dias. Dadas as circunstâncias, este plano B acabou por ser necessário, mas o facto do plano A depender de uma qualificação não confirmada traz ao de cima um pouco da sobranceria que em parte levou ao desinvestimento das últimas épocas e, consequentemente, a perdas desnecessárias de troféus.

Esse desinvestimento, com o alegado objectivo de dar espaço às promessas da formação (ou melhor, aos activos que nos próximos anos se esperaria sairem por milhões), aliado à situação actual do mundo e consequentes problemas financeiros que traz ao futebol, faz com que este volte-face não tenha razão aparente. E seria efectivamente o caso, se não soubéssemos que as eleições estão à porta.

E aí é que está o problema.

Não me importo absolutamente nada que o Benfica contrate grandes jogadores. Estou até algo estupefacto que tenha conseguido atraír jogadores deste calibre. Assumindo que a saúde financeira do clube é relativamente boa (e se não for, então algo está muito mal, tendo em conta as vendas que temos feito, principalmente a do João Félix na época passada), contratações milionárias não me incomodam.

Também não me incomoda que Jorge Jesus tenha regressado. Longe de ser o único, é um grande treinador, e estou certo de que jogaremos mais. A novela em torno do relacionamento entre Jesus e o clube e/ou o presidente após a sua saída também pouco me importa neste momento. Não o culpo a ele por isso.

O que me incomoda é que Luís Filipe Vieira lembrou-se de repente que afinal o importante era que o Benfica ganhasse títulos. E, vendo que estão a surgir candidatos bastante válidos ao seu lugar, está desesperadamente a tentar manter o poleiro, do qual já deveria ter saído há muito tempo, na minha opinião.

Possivelmente vai resultar. Se com isso o Benfica ganhar títulos, menos mal. Mas preocupa-me que se venha a saber mais tarde que afinal este esforço financeiro não era assim tão viável ou que, sendo-o, na próxima época comece novamente o desinvestimento, independentemente dos resultados desta.

Os tiques ditatoriais do presidente também já me chateiam de sobremaneira há muito tempo. Uma das mais visíveis e absurdas provas deste comportamento nesta altura é a forma como a BTV é usada e abusada para propaganda presidencial e como eventos essenciais num período pré-eleitoral nunca terão lugar na televisão que deveria servir o clube. Falo da discussão das várias candidaturas, de debates entre os candidatos, enfim, essas coisas da democracia aparentemente sem importância para a actual direcção.

Faz-me lembrar a televisão pública Polaca, descaradamente emitindo propaganda do partido no poder. Mas isso é a Polónia, um país da União Europeia com 40 milhões de habitantes, o que não interessa nada. Quando estamos a falar do Benfica estas coisas tornam-se muito mais preocupantes.

Enfim, é melhor abrandar. Mas, caros consócios, cumpram o vosso dever e votem. Em princípio também o farei, mesmo à distância, se os atrasos na correspondência derivados da pandemia mo permitirem.

Voltando ao futebol. Apesar de tudo isto estou com algum entusiasmo, e no mínimo curioso para ver o que Jorge Jesus consegue fazer com esta equipa. O futebol, que é o que me interessa, só tem a ganhar com o seu regresso. E jogadores do calibre dos que chegaram também só trarão valor ao Benfica e ao futebol Português. E temos ainda o Braga com alguns reforços interessantes, incluindo, com muita pena minha, Nico Gaitan, que com Carlos Carvalhal ao leme pode fazer um campeonato muito interessante. O Porto será sempre um dos favoritos, o Sporting menos nesta altura, mas ainda assim há que contar com alguma qualidade. E no pelotão seguem de perto Rio Ave (que por muito pouco não eliminou o Milan) e Famalicão, depois de uma grande época, ainda o Guimarães, como já é costume, e quiçá o Boavista, com algumas movimentações interessantes no mercado. Com tudo isto, possivelmente teremos algum futebol de jeito esta época.

Para já, e tirando obviamente a inenarrável eliminação frente ao PAOK, esta equipa promete.

E para terminar os primeiros 45 minutos deste meu devaneio, lamento apenas que, no ano em que o Benfica finalmente se desloca aqui à Polónia para, espera-se, dar uma tareia ao Lech Poznań, estamos em plena pandemia. Sendo assim, duvido que alguma vez venha a ver o Benfica ao vivo na Polónia, já que as equipas Polacas não abundam nas competições Europeias, e geralmente não se aguentam muito tempo. Na verdade, o Benfica tem sido uma espécie de equipa Polaca nos últimos anos.


Mudando então do encarnado (ou qualquer que seja o nome da cor nas novas camisolas) para o amarelo torrado, tenho que falar também, obviamente, do Cambridge United.

A League Two (a quarta divisão Inglesa, a seguir a Premier League, Championship e League One) terminou com a chegada em força da pandemia, não se tendo efectuado os jogos que faltavam após o desconfinamento. Talvez tenha sido melhor assim, porque o Cambridge United estava a fazer uma época algo pobre, terminando em 16º lugar (de um total de 24), e durante a qual, tal como o Benfica, saiu o treinador e ficou um treinador interino para a terminar. Colin Calderwood saiu para dar lugar a Mark Bonner, que, ao contrário do que aconteceu a Nélson Veríssimo no Benfica, acabou por perder "interino" na sua descrição de emprego e continuar ao leme da equipa.

A espinha dorsal da equipa manteve-se, com algumas saídas e algumas entradas. Normalíssmo. Mas a verdade é que este início de época está a assemelhar-se às épicas carreiras que cheguei a fazer nos vários Championship Manager. E, tendo em conta as épocas passadas, é uma entrada a todo o gás. Foi já eliminado em Setembro da Carabao Cup, ou taça da liga, mas segue em primeiro no seu grupo do EFL Trophy e, mais importante que tudo isso, nas primeiras 7 jornadas da liga perdeu um jogo e empatou outro, seguindo na frente da tabela com a melhor defesa e o melhor ataque. Melhor ataque esse liderado por Paul Mullin, que assinou contrato após de ter passado os primeiros meses do ano já no clube, mas por empréstimo. Ainda ontem Mullin rubricou mais uma grande exibição frente ao Port Vale, com um hat trick. Nos 10 jogos que fez até agora já vai com 11 golos, o que basicamente faz com que esta já seja a sua melhor época de sempre em termos de golos marcados, e ainda agora começou.

Bem sei que isto mais dia menos dia e começa a correr mal, mas entretanto parece-me que este início auspicioso já está a deixar marcas psicológicas na equipa. Em vários períodos nos últimos jogos tenho visto bom futebol, posse de bola e muito menos do típico pontapé para a frente, que é a norma quando qualquer equipa daquele nível está menos à vontade. Nunca deixará de acontecer, mas estou a acompanhar estes jogos com muito mais confiança e interesse pelo futebol jogado.


No tempo de compensação gostaria apenas de deixar um curto apontamento acerca da selecção Portuguesa. Sempre gostei de jogos internacionais e de acompanhar a selecção, mas nunca estive tão entusiasmado com as possibilidades daquela equipa. Acompanho a selecção desde os tempos da chamada geração de ouro, recordada pelo belo futebol, mas sem conquistas internacionais. Vi (e espero não ter sido o único) a selecção vencer o campeonato da Europa há 4 anos, contra todas as probabilidades. Mas creio que hoje estamos na presença duma equipa potencialmente bem superior a essa que nos levou ao topo da Europa. A geração que está agora a maturar, juntamente com os putos absurdamente talentosos que aí vêm, e ainda com Ronaldo lá na frente e Pepe lá atrás, que parecem não envelhecer, deixa-me absolutamente convencido que agora sim, somos candidatos a ganhar tudo. Claro que chegar mesmo lá é outra coisa. Mas não é nada descabido considerar essa possibilidade.


E pronto. Vou pousar a caneta e ver um bocado de futebol.


Até breve!

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