Sinceros desejos de um bom dia, tarde ou noite, caríssimos leitores.
Desta feita venho escrever algo sobre um recente passatempo que tem feito jus a essa designação, de tal forma que me tem tirado o tempo para quase tudo o resto, principalmente para escrever no blog. Estou a tentar acalmar um pouco a intensidade de modo a actualizar o blog e fazer outras coisas de vez em quando.
Por onde começar?
Possivelmente posso ir até há uns anos atrás, altura em que me comecei a interessar por bebidas alcoólicas. Nessa altura o que me interessava mais era a feitura de cocktails, seguindo receitas ou misturando sabores à balda. Efectivamente estava naquela fase em que se pensa que quanto mais forte uma bebida, melhor, o que nem sempre acaba bem.
Uns anos mais tarde comecei a interessar-me mais por cerveja. Mas não foram as cervejas Portuguesas que me despertaram o interesse. Uma Alemã aqui, uma Belga ali e uma Irlandesa acolá iam-me mantendo interessado, já que em Portugal era quase tudo muito aborrecido.
Não é que as cervejas Portuguesas fossem assim tão más. A certa altura as grandes marcas introduziram um número interessante de cervejas diferentes, o que tornou o panorama um pouco melhor. Mas a verdade é que hoje em dia bebo algumas dessas cervejas mais por razões afectivas do que propriamente pela qualidade do produto. Aliás, exemplo disso era o que eu já fazia em Portugal. Bebia Super Bock só porque sim, pelo hábito ("Sagres, nunca! Sagres não vale nada!"). Sinceramente, e referindo-me às cervejas base das duas marcas, hoje sou capaz de gostar mais da Sagres até do que da Super Bock, mas acabo por beber esta mais vezes quando estou em Portugal, naturalmente.
A minha passagem pela Itália pouco trouxe de novo, já que nessa altura o mercado Italiano de cerveja era pouco diferente do Português. Peroni, Moretti, Nastro Azzurro, tudo nomes diferentes para cervejas muito parecidas. Creio ser um mal comum nos países com tradição vinícola.
Na Irlanda o mercado resumia-se às marcas de stout (Guinness, Murphy's e Beamish) e ainda uma ruiva (Smithwick's), o que já não era mau, mas para além disto as "normais" lagers imperavam. Uma das coisas que não esperava por lá era o facto de, nas saídas com colegas Irlandeses, eu ser o único a beber Guinness. Todos eles preferiam uma Heineken ou Carlsberg. Não ponho em causa estas cervejas, ou o facto de terem o seu lugar, tal como as outras têm. Mas nunca vi nenhum dos meus colegas a beber cerveja Irlandesa. Pelo que me disseram, as tradicionais stouts estão muito associadas às pessoas mais velhas, daí que seja normal os mais jovens se terem afastado desse hábito.
Chegando à Holanda, as coisas mudaram radicalmente. Ainda demorei algum tempo a começar a experimentar realmente todo este mundo novo, mas depois de começar torna-se impossível voltar atrás.
Há um número razoável de cervejas Holandesas, mas a essas juntam-se as Alemãs e principalmente as Belgas. Em qualquer lado por aqui encontro facilmente dezenas de cervejas disponíveis.
E foi isso realmente que mudou as regras do jogo. A variedade. As marcas "normais" continuam a estar por aqui. Aliás, a Heineken, por exemplo, é Holandesa e uma das mais conhecidas marcas mundiais, mas desde que cá estou devo tê-la bebido meia dúzia de vezes. Por uma questão de gosto e pelas outras opções disponíveis.
Entretanto, com todas as minhas visitas à Polónia, comecei a desenvolver também um gosto por hidromel, essa bebida obscura que quase ninguém conhece. Depois de a introduzir na tradição Natalícia da minha família, começaram a surgir as perguntas: "Mas isto é o quê? É bom. É doce e sabe a mel.", "Como é que isto é feito?". Na minha família, tal como em muitas outras da zona, existe a tradição do fabrico de vinho artesanal. Mas isto eram questões que eu ia respondendo sem estar muito certo do que estava a dizer, já que pouco sabia sobre os detalhes.
Após estes acontecimentos e umas buscas na internet, vi que o hidromel pode ser infinitamente mais variado do que aquilo que se vê à venda, mesmo na Polónia. O que se encontra por lá é geralmente uma bebida com um teor alcoólico semelhante ao do vinho, ou um pouco mais, e doce. E não tem que ser. O problema era arranjar exemplos de hidroméis diferentes. E aí finalmente deu-se o click: "Mas isto pode-se fazer em casa... Porque é que eu não experimento fazer também?"
E assim foi. Estive um par de meses (os primeiros meses de 2012) a ler tudo o que encontrava na internet sobre o assunto, a ver vídeos, até que encontrei uma notícia num jornal online que referia uma nova cerveja artesanal no Porto, a Sovina. Essa notícia destacava o facto dos fundadores da marca, "os 3 cervejeiros", organizarem workshops de produção de cerveja artesanal. Decidi que tinha de ir a Portugal participar num desses workshops, o que acabou por se tornar num dia muito bem passado e onde me apercebi de quão diferente seria a produção de cerveja relativamente ao hidromel.
Depois de ter então tido tempo para encontrar lojas de material para produção de cerveja e vinho, bem como apicultores e lojas especializadas em mel, era tempo de começar.
Em Nijmegen, a 12 de Março de 2012, fazia eu o meu primeiro hidromel. Nada de muito complicado. Água, mel de flor de laranjeira, levedura e alguns nutrientes para garantir a saudabilidade desta.
Depois, veio a parte pior: o tempo de espera. O hidromel pode demorar muitos meses ou até alguns anos para estar devidamente pronto a beber. Sendo a primeira vez, cometi obviamente erros no procedimento que me seriam perdoados, mas que levariam a um tempo de espera mais longo ainda.
Sendo assim, tinha que fazer mais alguma coisa entretanto. Não queria ficar um ano à espera de saber se aquilo era bom ou não, para fazer novamente.
Foi então que decidi dar uso ao workshop e produzir também cerveja. Uma cerveja com teor alcoólico médio demora, em geral, um a dois meses para estar pronta, por isso foi a solução encontrada para o meu problema. Era uma boa forma de ir aprendendo mais sobre o assunto, com resultados mais rápidos.
A primeira experiência foi o mais simples possível. Uma lata com concentrado do mosto da cerveja (extracto de malte e lúpulo previamente fervido) e uma saqueta de levedura. Ferver para sanitizar, juntar água até ao volume pretendido, juntar a levedura e esperar. Duas semanas depois engarrafava a cerveja, e estava pronta a beber após mais duas semanas a um mês. Simples.
Desde aí tenho vindo a experimentar diferentes ingredientes e procedimentos, tentando aprender sempre um pouco mais e aproximando-me cada vez mais dos ingredientes mais "puros", o que significa começar com o malte em grão e produzir tudo a partir daí.
Não vos vou maçar muito mais com isto, mas como já devem ter percebido entusiasmei-me com este novo mundo que se abriu à minha frente. Devido a restrições de espaço e tempo estou a tentar acalmar um pouco e planear melhor as coisas, até para ter algum tempo de escrever sobre isso, o que até aqui não acontecera.
Vou tentar expandir um pouco mais este assunto, mas por agora ainda tenho mais alguns posts atrasados, pelo que vou tentar primeiro restabelecer a ordem.
Já agora, aquele primeiro hidromel de que vos falei foi engarrafado quando já tinham passado cerca de seis meses. Inicialmente não estava bom, mas umas semanas depois de engarrafado já começava a melhorar. Ao fim de 1 ano estava já bastante agradável, e agora creio que está ainda melhor.
Proost!
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