Saudações desportistas, caríssimos leitores!
Mais uma vez abordo um dos assuntos que mais paixão e irracionalidade desperta por todo o mundo. Não tenho como objectivo passar a escrever exclusivamente sobre isto, mas por agora é o que me tem apetecido fazer.
Devido à fase avançada da época futebolística e a alguns acontecimentos recentes, tenho visto inúmeros comentários relativos à preferência clubística de grande parte dos Portugueses. Alguns deles, como acontece muito facilmente nas redes sociais de hoje em dia, até algo insultuosos.
Ora, o que posso dizer? Sou adepto e sócio do Benfica e nunca morei sequer perto de Lisboa. Aliás, consigo facilmente recordar-me de todos os jogos do Benfica que vi no estádio ao longo da minha vida, porque não foram muitos. Como se explica isto? Porque não apoio o Rio Ave, clube da minha cidade, nos jogos contra o Benfica?
Como tudo na vida, é uma questão de escolha.
É, e não é.
Como podem facilmente concluir, a minha escolha de clube foi feita de forma totalmente consciente nos meus primeiros anos de vida. Um pouco à imagem do que aconteceu com a minha escolha de religião, embora neste caso em particular tenha demorado menos tempo a decidir, tendo sido baptizado menos de dois meses depois de ter nascido.
Com o futebol demorou um pouco mais. Nunca fui forçado por ninguém a escolher o clube A ou B, embora tenha tido obviamente vários encorajamentos, por parte de familiares, para escolher o Porto ou o Benfica (principalmente este).
Comigo, a religião ainda foi ficando e fazendo parte da minha vida. Sem muito gosto da minha parte, devo dizer. Mas a certa altura deixou de fazer sentido.
A paixão por um clube de futebol tem algumas semelhanças com religião, se bem que na minha experiência pessoal nunca os sentimentos para com os ícones religiosos se aproximaram sequer do que as emoções futebolísticas são capazes de proporcionar.
O que pretendo dizer com tudo isto é que essas emoções e sentimentos para com um clube de futebol penetram de tal forma na mente dos adeptos que se tornam praticamente impossíveis de remover. Não é por acaso que se diz ser possível uma pessoa trocar tudo - roupa, casa, país, nacionalidade, marido/mulher - excepto de clube.
Dito isto, penitencio-me por fazer parte da grande maioria de Portugueses adeptos dos chamados grandes.
Eu gostaria de não ser, sinceramente. Porque tenho a noção do que os grandes beneficiam pelo facto de serem grandes. O simples facto de disporem de mais dinheiro, que eventualmente esbanjam, beneficiando depois de condições vantajosas para belos empréstimos bancários e/ou perdões de impostos. As pressões (não vou dizer corrupção, mas não sou anjinho ao ponto de acreditar que ela não existe ou que o meu clube é inocente) a diversos agentes desportivos, sendo que os mais odiados pelos adeptos são os árbitros. Enfim, a lista continuaria certamente.
Não me parece que possa dizer que os clubes pequenos são inocentes também. Esquemas duvidosos com a câmara municipal local não são apenas para os grandes. A escala será muito diferente, no entanto.
Embora gostasse de o fazer, temo que me seja totalmente impossível mudar esse aspecto da minha vida nesta altura. E a prova disso é eu poder afirmar categoricamente que não o quero mudar, mesmo admitindo que no fundo gostaria de o conseguir fazer. Algo contraditório, mas foi a melhor forma que arranjei para articular o que sinto.
Como já referi antes, este texto surgiu após a minha leitura de vários comentários relativos a esta temática. Muitos deles lembram a muito badalada vitória do Leicester no campeonato Inglês.
Muitas vezes me regozijei com derrotas do Leicester frente ao meu Cambridge United, no tempo em que levava esta equipa das divisões inferiores até à glória, no velhinho Championship Manager, mas isto é apenas um aparte.
Não posso negar que não tenha sentido alguma satisfação ao ler sobre essa romântica história, de um clube pequeno batendo, contra todas as expectativas, os grandes. Embora o investimento de que este clube foi alvo não se possa comparar aos dos clubes pequenos em Portugal, foi um grande feito.
Parte de mim sentiria satisfação se isto acontecesse em Portugal, mas obviamente que o meu coração Benfiquista ficaria algo aborrecido.
A imagem que tenho dos adeptos Ingleses é de que os há em grande número em qualquer estádio, e não estão lá todos a apoiar os grandes. Até nas divisões inferiores há sempre muitos adeptos apoiando a equipa local.
Para que isto acontecesse em Portugal uma mudança profunda de mentalidade seria necessária. Mas lamentavelmente acho que não tenho grande contribuição a fazer para essa mudança.
Mas eu não seria um bom e irracional adepto se não arranjasse já uma elaborada explicação para a minha preferência clubística.
Eu nasci em Vila do Conde, terra do Rio Ave, que considero o meu segundo clube. Embora a minha freguesia pertença a essa cidade, a verdade é que vivia muito mais longe de Vila do Conde do que, por exemplo, da Maia. E, pior ainda, vivia, mais coisa menos coisa, a meio caminho entre Vila do Conde e o Porto.
Aqui está um argumento utilizado muitas vezes pelos Portistas da minha terra. Eles escolheram esse clube por ser o clube local. Cada um vê as coisas na perspectiva que quiser.
Podia ser ainda mais local e apoiar um clube da freguesia. Mas... qual? Aqui passamos para o campo do ridículo. Há algum tempo escrevi um post sobre a rivalidade no futebol. Na minha freguesia existiam (não sei se ainda existem) dois clubes de futebol rivais. Sim, dois. Numa freguesia com 2000 habitantes.
Com todas estas dúvidas relativamente ao clube local, entre distâncias físicas e situações absurdas, não me parece de todo descabido ter escolhido o Benfica. E, para não ser acusado de clubismo exacerbado, passo a explicar, com uma boca a mim mesmo. É que eu gosto de história. E de facto o Benfica tem bastante.
Paz!
domingo, 8 de maio de 2016
Ser adepto de um grande
Redigido de forma ordenada e artística por
MrRogers
a
domingo, maio 08, 2016
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1 observação(ões) de carácter irónico ou mordaz:
Na tua freguesia ainda existem dois clubes. O Atlético de Vilar joga em campo "emprestado" desde que o dono do campo onde se encontravam tratou de os despejar, depois de grandes batalhas em tribunal. Beijinho
São
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