domingo, 24 de outubro de 2021

Para onde vais, Polónia?

Ora viva, caríssimos!


Numa altura em que já vou com 5 anos de Polónia, começo a ter cada vez mais dúvidas sobre a minha permanência neste país.

Estas dúvidas não são novas. Aliás, estão bem presentes desde que vim para cá. Como com qualquer outra mudança, nunca tive propriamente um plano sobre quanto tempo iria ficar. Nas minhas primeiras mudanças (Itália e Irlanda) nem sequer dei tempo às dúvidas, saindo após um ano apenas, mas nos Países Baixos (parece que já não é Holanda que se diz) fui ficando, e o mesmo se passa nesta minha estadia na Polónia.

A diferença é que pela primeira vez estou a ficar deveras preocupado com a situação política do país onde resido, mesmo tendo a noção da minha falta de conhecimentos sobre o assunto.


E o que está a acontecer de tão grave na Polónia?

Na verdade já escrevi algo sobre isto há uns anos aqui, e continua válido. O governo tem vindo, a pouco e pouco, a tomar o controlo do poder judicial, a controlar cada vez mais a imprensa do país, e a ter comportamentos que me causam alguma perplexidade, tendo em conta o século em que estamos.

O poder judicial parece estar sob o controlo, ou pelo menos muita influência, dos interesses do partido no poder, o que culminou recentemente num confronto directo entre o governo Polaco e a União Europeia, deixando no ar a dúvida sobre as sanções a aplicar à Polónia e até uma possibilidade, se calhar não tão remota assim, de um eventual Polexit. Se os dinheiros Europeus não dessem tanto jeito para implementar medidas visando a permanência no poder, já tinham saído.

A imprensa estatal é um veículo de propaganda. E obviamente que em situações destas os jornais e canais de televisão estatais fartam-se de culpar a União Europeia por tudo o que de mau acontece no país. Enquanto isso, tentam limitar, e eventualmente destruir, os meios de comunicação social que ainda são independentes do governo.

Leio, com alguma frequência, declarações altamente discriminatórias para com a comunidade LGBT (inclusive por parte do ministro da educação), às quais se juntam financiamentos a grupos de extrema direita que, eventualmente, validados pelo governo, não têm problema nenhum em perseguir e atacar seres humanos dessa mesma comunidade.

Os direitos conquistados pelas mulheres parecem ter sido, para este governo, um erro. O que é preciso é que elas dêm prioridade a ter uma ninhada de filhos, sendo agora quase impossível um aborto, mesmo em situações extremas.

O estado está cada vez mais ligado à Igreja, com esta a ter influência em mais aspectos da educação, por exemplo. Sendo a Polónia um país conservador, até me acredito que uma boa parte do povo ache isto muito bem. Afinal de contas, este mesmo governo foi reeleito em 2019. Sendo verdade que muitas medidas foram criadas exclusivamente para ganhar votos, não é menos verdade que gozam de bastante apoio popular.


É obvio que este é um sumário muito incompleto do que tem acontecido. E se calhar nem tudo é tão dramático como eu penso, mas eu acho sempre que o apocalipse está iminente. Estou neste momento a ler um pouco (finalmente) da história de Portugal. Assusta-me por vezes ler algo nos livros de história, relativo à Idade Média, que me parece encaixar-se na actualidade Polaca. E assusta-me ainda mais esta minha afirmação ser um bocado exagerada, mas não tanto como seria desejável.


Estou curioso para ver até onde isto vai, mas só porque a minha ligação afectiva é com uma cidadã Polaca, não com a Polónia. Nas próximas eleições pode ser que o povo Polaco decida de vez para onde quer ir. Comigo ou sem migo, a Polónia seguirá o seu caminho.


Do widzenia!

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